Juros devem subir mais 0,5 ponto na quarta-feira
Ainda que o cenário econômico tenha melhorado ? com a queda do petróleo e do risco-país, que tem girado em torno dos 400 pontos ?, não será fácil a decisão do Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central em sua última reunião do ano, que começa amanhã e termina na quarta-feira. A maior parte dos analistas consultados pelo Correio aposta que o Copom elevará a taxa básica de juros (Selic) em 0,5 ponto percentual, de 17,25% para 17,75% ao ano. Mas são muitas as dúvidas se esse será o último aumento da Selic, cujo processo de alta começou em setembro último, ou se a política de aperto monetário vai se estender pelos primeiros meses de 2005.
??Eu acredito que o Copom subirá a Selic ainda no início do ano que vem, para 18% ao ano??, ressalta a economista Ana Paula Rocha, do ABN Amro Bank. ??Na minha opinião, é possível que os juros subam até os 19%??, complementa o economista e consultor independente Marcelo de Ávila. Para Carlos Thadeu Filho, Grupo de Conjuntura Econômica da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), o Copom será, porém, mais comedido, encerrando o ciclo de alta da Selic neste mês. ??Creio que o BC dará uma parada estratégica para aguardar os efeitos defasados do aumento dos juros sobre a economia??, diz.
Peso da inflação
A justificativa para a subida da Selic é uma só: a insistência da inflação em se manter acima da meta fixada pelo governo. Na semana passada, o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), usado como referência para o sistema de metas, mostrou que os núcleos da inflação ? que descontam os picos de alta e de baixa dos preços ? continuaram muito elevados em novembro, apontando para uma taxa anualizada de 7%. ??Estamos falando de uma projeção bem acima da meta de 5,1% para 2005 perseguida pelo BC??, destaca o economista Eduardo Velho, do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea). ??Sendo assim, não dá para o Banco Central ficar parado. Os juros têm que subir??, afirma.
Na opinião de Velho, há, no entanto, pelo menos uma notícia positiva neste momento. ??O cenário atual mais tranqüilo, com a redução dos preços do petróleo e a queda do dólar, afastou qualquer possibilidade de o Copom aumentar a Selic em 0,75 ponto percentual nesta semana??, assinala. Velho diz ainda que a elevação da Selic depois de amanhã será a última do processo iniciado em setembro. ??As janelas para a estabilidade da Selic no início do próximo ano e a redução da taxa a partir do segundo semestre estão se abrindo. Isso é muito positivo para a economia??, ressalta o economista do Ipea.
Juros nos EUA
Para Marcelo de Ávila, se há algum tipo de preocupação para o Copom, ele vem do exterior. ??Até mesmo o ritmo acelerado do crescimento econômico do país, que facilita os aumentos de preços, deu um alívio??, afirma. Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), a produção industrial apresentou recuo de 0,36% em outubro, depois de cair 0,2% em setembro. Esses números indicam que a economia está começando a se acomodar, antecipando-se aos efeitos concretos do aumento da Selic, que só devem ser sentidos pela economia no primeiro trimestre de 2005.
??No quadro internacional, entretanto, as incertezas são grandes. Há a questão dos déficits (comercial e fiscal) crescentes dos Estados Unidos, a contínua desvalorização do dólar e a desaceleração da economia mundial??, destaca Ávila. O temor dos especialistas é de que a oferta de recursos para os países emergentes, como o Brasil, acabe diminuindo.
Amanhã, um dia antes do final da reunião do Copom, o Federal Reserve, o BC americano, anunciará o aumento da taxa básica americana de curto prazo. A expectativa é de que os juros subam 0,25 ponto percentual, encerrando o ano em 2,25%. Esse movimento, contudo, já foi completamente absorvido pelos investidores e não deve provocar nenhuma instabilidade nos mercados.
Fonte: Correio Braziliense