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23/10/2008

Banco Central interromperá alta dos juros, dizem analistas

SÃO PAULO - O momento nebuloso da economia, motivado pela crise internacional que gera incertezas sobre as possíveis seqüelas que podem atingir o Brasil, fará o Banco Central abrir mão de aumentar, pela quinta vez seguida, a taxa básica de juros da economia (Selic) na reunião do Comitê de Política Monetária (Copom), que ocorre nos dias 28 e 29 de outubro.

De acordo com o economista-chefe do Citibank e ex-chefe de Departamento de Pesquisa Econômica do Banco Central, Marcelo Kfoury Muinhos, o órgão deverá optar pela manutenção da taxa em 13,75% ao ano, enquanto não tiver mensurado de forma prática o impacto da crise no câmbio e crédito do País. "Acredito que a Selic só volte a subir em dezembro ou janeiro, como forma de coibir a inflação que deve dar sinais de alta", diz.

Segundo o especialista, um aumento da taxa iria contra à tendência apresentada pelo Banco Central até então, de busca pelo fomento da economia. "Seria contraditório elevar juros, tendo em vista as políticas de liberação de compulsórios do BC", afirma. Muinhos acrescenta que a crise levará a economia brasileira a crescer apenas 3% no próximo ano, ante 5,2% em 2008.

O pensamento do economista se assemelha com a previsão do Banco Merrill Lynch, que divulgou relatório afirmando que a taxa Selic deve ficar inalterada em 13,75% ao ano na próxima reunião do Copom. Além disso, a empresa reduziu a expectativa de crescimento do PIB brasileiro no próximo ano para 3%, ante os 3,8% previstos anteriormente. "Pensamos que a Selic deve ficar inalterada até o final do ano", diz o texto.

Na segunda-feira, na Pesquisa Focus, divulgada pelo Banco Central, a expectativa do mercado para a taxa de juros em 2008 havia caído de 14,75% para 14,5% ao ano. Porém, os analistas acreditam que o Copom deve aumentar o juro duas vezes até dezembro: em 0,50 ponto percentual em outubro e em 0,25 ponto em 9 e 10 de dezembro. Para o fim de 2009, especialistas mantiveram a projeção que aponta para juros em 13,5% ao ano, o que continua indicando o início de um desaperto monetário a partir de meados do próximo ano.

Marcelo Kfoury Muinhos detalha que a crise afetará diretamente o Brasil nas exportações, no investimento direto e no crédito ao consumidor. "Acredito que as empresas terão dificuldade, pois não poderão captar recursos para investir por meio de IPO e terão redução de lucros com a queda de demanda", informa, acrescentando que o câmbio ficará entre R$ 1,95, em 2008, e R$ 2, em 2009. "As medidas do BC mostram interesse em manter o mercado aquecido. São práticas pró-ativas para evitar a contaminação da economia brasileira, que não tem problemas de solvência, apenas de liquidez", comenta o economista. Além disso, o especialista acredita que as mudanças cambiais poderão equilibrar a balança comercial no País, já que o dólar elevado inibe o as importações.

Já em relação à economia americana, Muinhos acredita que os Estados Unidos deverão apresentar quedas sucessivas do PIB durante os próximos quatro trimestres, motivadas pela crise financeira. Após essa seqüência desastrosa de retração, o banco projeta que o PIB americano terá alta de 0,2% em 2008 e queda de 0,2% em 2009.

Atitude

O professor da Fundação Getulio Vargas, Márcio Holland, disse que o governo demorou para reconhecer a gravidade da crise, tendo agravado ainda mais algumas perdas. "Esses argumentos otimistas de que o Brasil não teria seqüelas geraram muita incerteza sobre o que o País poderia fazer", ataca. O representante alega que o mundo vive uma aversão ao risco demasiada, portanto, o governo poderia logo de início apresentar seus pacotes.

Mesmo assim, o acadêmico acredita que o erro principal se deve à postura do Ministério da Fazenda, já que o BC demonstrou estar atendo ao desenrolar da crise americana.

Explicações

Ontem, o presidente do BC, Henrique Meirelles, e o ministro da Fazenda, Guido Mantega, forma sabatinados no Congresso Nacional sobre a crise do sistema financeiro. No centro das discussões, esteve a Medida Provisória 442, editada no início do mês, com o objetivo de dar mais instrumentos ao Banco Central para garantir a liquidez de pequenos e médios bancos. Na ocasião, Meirelles revelou que a atuação da autoridade monetária para impedir a escalada do dólar, já somou US$ 22,8 bilhões desde o agravamento da crise externa.

Holland informa que historicamente as crises ocorrem após grandes "boons econômicos" e o Brasil terá problemas depois que ela acabar. "Todos saem endividados depois de uma crise, mas defendo que o Brasil sairá pior porque, em termos de maturidade, nossa dívida é ruim, a maioria de curto prazo. Já a dos Estados Unidos tem em sua maioria fixadas em longo prazo", comenta. As informações foram feitas ontem na Escola de Economia de São Paulo da Fundação Getulio Vargas (EESP).