icon
(47) 3326-3677

Blumenau / SC

icon
Atendimento

Segunda à Sexta
8h às 12h - 13h às 17h30

icon
Área Restrita

Exclusiva para Clientes

09/04/2009

Que sirva de exemplo

O presidente Lula demitiu ontem Antonio Francisco de Lima Neto da presidência do Banco do Brasil. A decisão, segundo o Palácio do Planalto, servirá de exemplo para os demais presidentes de bancos públicos, que devem se engajar no projeto do governo de ampliar a oferta de crédito e reduzir as taxas de juros cobradas de empresas e consumidores. Na avaliação do governo, o crédito será uma ferramenta fundamental para estimular os investimentos produtivos e a demanda das famílias, evitando que o país feche 2009 com retração do Produto Interno Bruto (PIB). Há dois anos à frente do BB, Lima Neto era visto como empecilho para uma maior ousadia da instituição.

Lima Neto, que ficará no cargo até o próximo dia 22 para uma ?transição civilizada?, será substituído por Aldemir Bendine, atual vice-presidente de Cartões e Novos Negócios de Varejo e conhecido como ?Dida?. Ele foi indicado pelo chefe de gabinete de Lula, Gilberto Carvalho. Com isso, o PT ampliou seu espaço no controle do maior banco público do país, que, em 2008, registrou lucro líquido de R$ 8,8 bilhões, o maior de sua história.

Dois outros vices ligados ao PT, Adézio de Almeida Lima (Crédito, Controladoria e Risco Global) e Milton Luciano dos Santos (Varejo e Distribuição), foram cotados para a presidência. Eles são apadrinhados pelo presidente do partido do governo, o deputado federal Ricardo Berzoini (SP). O futuro presidente tomará posse em 23 de abril com a missão ? firmada em um contrato de gestão ? de ampliar a carteira de crédito do BB, que soma R$ 240 bilhões, muito além dos 20% prometidos por Lima Neto.

Para Lula, é fundamental que os bancos públicos reduzam o spread, diferença entre o que as instituições financeiras pagam aos investidores e o que cobram nos empréstimos e financiamentos. Ele acredita que, com o spread em baixa, os juros poderão cair, forçando as instituições privadas a seguirem na mesma direção. ?A redução do spread bancário, neste momento, é uma obsessão minha. Nós precisamos fazer com que o spread bancário volte à normalidade no país?, afirmou. Entre setembro e dezembro de 2008, auge da crise internacional, o spread médio cobrado de empresas e consumidores saltou de 26,4 para 30,7 pontos percentuais, elevando os juros dos empréstimos, já bastante escassos. Na época, o BB foi apontado pelo presidente do Banco Central, Henrique Meirelles (veja matéria nesta página) como um dos principais responsáveis por essa alta.

Tensão na Caixa
O descontentamento do presidente com Lima Neto era enorme. Em várias reuniões com dirigentes de bancos públicos, Lula esmurrou a mesa e sempre focou suas críticas no BB pelo fato de os spreads e os juros não estarem caindo na velocidade desejada pelo governo. Lima Neto argumentava que, por ser um banco de capital aberto, com ações negociadas em bolsa, o BB tinha limitações para cortar suas taxas. Lembrava ainda que, desde novembro de 2008, o banco havia baixado os juros de várias operações por cinco vezes. E ressaltava que a instituição não poderia sair emprestando dinheiro sem critério, devido ao aumento do risco de calote com a crise mundial. Lula replicava que o BB poderia abrir mão de parte de seus ?lucros extraordinários? em prol do país.

A contrariedade de Lula com Lima Neto foi expressada de forma clara pela ministra da Casa Civil, Dilma Rousseff, em conversa com sindicalistas logo depois da troca de comando no BB. ?Não aguentamos mais presidentes de bancos públicos que acham que são presidentes de bancos privados?, disse. Candidata à sucessão de Lula em 2010, Dilma precisa que a economia retome o fôlego o mais rapidamente possível. E isso, na visão dela, deve acontecer mesmo que seja preciso sacrificar os ganhos dos bancos públicos. As palavras de Dilma provocaram tensão, sobretudo na Caixa Econômica. Mas, a princípio, não há qualquer intenção de substituir Maria Fernanda Ramos Coelho da presidência da instituição. Fernanda é ligada ao PT.


Não aguentamos mais presidentes de bancos públicos que acham que são presidentes de bancos privados

Dilma Rousseff - Ministra da Casa Civil


Fritura à Meirelles

Antonio Francisco de Lima Neto soube de sua demissão da presidência do Banco do Brasil na noite de terça-feira ? ele tinha uma entrevista coletiva marcada para o dia seguinte na sede do Ministério da Fazenda. E, a amigos mais próximos, não teve dúvidas em atribuir a sua queda ao presidente do Banco Central, Henrique Meirelles. Na avaliação de Lima Neto, tudo começou com a estratégia de Meirelles de tirar o foco de pressão para a queda dos juros de cima do BC, que, em dezembro de 2008, já com a economia do país solapada pela crise, decidiu manter a taxa básica (Selic) em 13,75% ao ano.

O presidente do BC preparou um estudo sobre o spread bancário no país, argumentando que de nada adiantava a Selic cair se a diferença entre o que os bancos pagam aos investidores e o que cobram nos empréstimos continuasse elevada. Para sustentar a tese apresentada ao presidente Lula, Meirelles destacou que a alta do spread havia sido comandada pelos bancos públicos, em especial pelo Banco do Brasil. Ao mesmo tempo, o BC passou a divulgar na internet um ranking dos juros cobrados de empresas e consumidores. O BB apareceu com taxas maiores do que o Citibank e outras instituições privadas.

Lima Neto argumentou que os modelos usados pelo BC tanto para o cálculo do spread quanto dos juros estavam equivocados. Mas não adiantou. O discurso de Meirelles já havia sido comprado por Lula, pela ministra da Casa Civil, Dilma Rousseff, e pelo ministro da Fazenda, Guido Mantega, que nunca foi muito simpático ao presidente demitido do BB. Mantega via Lima Neto como homem de confiança de seus antecessor, Antonio Palocci. ?Com esse quarteto, não havia como me manter no cargo, as pressões para a minha saída aumentaram muito?, comentou Lima Neto, segundo relato de um amigo.

Para o presidente demitido do BB, cuja gestão foi marcada pela perda do posto de maior banco do país depois da fusão entre o Itaú e o Unibanco, o importante é que a instituição recuperou a confiança dos investidores e cresceu de forma sustentada por meio das aquisições do Banco de Santa Catarina (Besc), da Nossa Caixa e de metade do Votorantim. E deve avançar mais depois do fechamento da compra do Banco de Brasília (BRB) e do Banco do Espírito Santo (Banestes). Além disso, assegurou ele, está entregando o BB com taxas de juros bem menores do que a média do mercado. Lima Neto deve pedir demissão do BB e migrar para a iniciativa privada depois de sua quarentena prevista em lei.