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21/05/2009

Entrada de dólares é a maior desde a crise

Juro alto que atrai investidor externo e aumento do saldo comercial explicam a mudança no fluxo; até abril, saldo era US$ 1,5 bi negativo.

Ney Hayashi da Cruz
da sucursal de Brasília

Mesmo considerando apenas os primeiros dez dias úteis do mês, maio já tem o maior saldo de entrada de dólares no Brasil desde setembro de 2008, quando o agravamento da crise financeira provocou uma fuga de investidores da maioria dos países emergentes.

Segundo balanço fechado pelo Banco Central na sexta-feira passada, o fluxo líquido de capital externo (diferença entre as entradas e saídas de dólares) observado neste mês está em US$ 2,059 bilhões.

O resultado foi suficiente para reverter o saldo negativo de US$ 1,544 bilhão que estava acumulado no ano até abril e contribui para a valorização do real. O saldo até o dia 15 de maio é de US$ 516 milhões.

Caso os números continuem positivos até o final de maio, este mês será o segundo seguido de fluxo positivo de dólares para o Brasil, o que não acontece desde o período entre agosto e setembro de 2008. Só no último trimestre do ano passado, ocorreu uma saída líquida de US$ 16,550 bilhões do país.

Neste mês, o saldo positivo foi puxado pelas chamadas operações financeiras, que incluem investimentos estrangeiros, inclusive em Bolsa, empréstimos externos, remessas de lucros para fora do país e pagamento de juros, entre outros.

Considerando todas as entradas e saídas, o saldo apurado por essas transações foi positivo em US$ 1,401 bilhão entre os dias 1º e 15. Desde março do ano passado esse segmento não encerra um mês no azul.

O aumento na entrada de dólares no país ajuda a explicar a valorização do real ocorrida nos últimos dias, com a cotação da moeda dos EUA se aproximando dos R$ 2. Para Thaís Zara, economista-chefe da Rosenberg Associados, o movimento do mercado de câmbio reflete o maior otimismo que se observa no mercado internacional. "O que houve nas últimas semanas foi um aumento no apetite por risco. O mercado está com uma leitura de que o pior da crise já passou", afirma.

Justamente por estar tão atrelado ao humor dos investidores estrangeiros, diz Zara, a trajetória do dólar pode se reverter rapidamente caso ocorra uma mudança brusca no cenário externo. "A crise ainda não se resolveu totalmente, embora os mercados estejam, por enquanto, mais otimistas."

Para Mário Battistel, gerente de câmbio da Fair Corretora, a crise também ajuda a explicar a recente valorização do real. "O Brasil ainda tem juros reais [descontada a inflação] positivos, o que não existe em nenhum país desenvolvido e é cada vez mais raro entre os emergentes", afirma, relacionando a alta taxa praticada no país com o aumento no fluxo de investimentos estrangeiros.

Além disso, Battistel também aponta os saldos ainda positivos na balança comercial como outro fator que ajuda a sustentar, pelo menos por enquanto, a queda do dólar. Neste ano, segundo o balanço fechado pelo BC na sexta-feira passada, as operações de comércio exterior foram responsáveis pelo ingresso de US$ 12,083 bilhões no Brasil. O valor corresponde à diferença entre o dinheiro trazido ao país por exportadores e as remessas ao exterior feitas por importadores.

 
E EU COM ISSO?

A valorização do real barateia os produtos importados, o que pode conter a inflação. Ela também reduz os custos de viagens a outros países e as dívidas em moeda americana. Por outro lado, encarece os produtos brasileiros no exterior, o que dificulta as exportações do país.


Rentabilidade de exportações recua 8,8%

Denise Menchen
da sucursal do Rio

Afetada principalmente pela queda de preços no mercado internacional, a rentabilidade das exportações brasileiras em abril foi 8,8% inferior à verificada em dezembro do ano passado - e pode piorar ainda mais com a desvalorização do dólar.

Economistas ouvidos pela Folha são unânimes ao afirmar que, se a moeda americana se estabilizar no patamar atual ou cair mais, o país perderá competitividade em meio a um mercado já abalado pela crise. O resultado pode ser a deterioração da balança comercial brasileira nos próximos meses.

"A queda do índice de rentabilidade neste ano embute uma redução de 9,5% nos preços das exportações e de 3,3% na taxa de câmbio. Mas em abril o câmbio médio foi de R$ 2,30. Tudo indica que o resultado de maio será pior", diz o economista-chefe da Funcex (Fundação Centro de Estudos do Comércio Exterior), Fernando Ribeiro, que calcula o índice.

Para o vice-presidente da AEB (Associação de Comércio Exterior do Brasil), José Augusto Castro, o impacto será mais sentido nos manufaturados, principalmente nas indústrias de calçados, confecções e móveis, mais intensivas em mão de obra.

"Muitas fecharam contratos imaginando que o dólar ficaria entre R$ 2,20 e R$ 2,30 e agora vão ter prejuízo. Quando forem fazer a próxima venda, vão trabalhar com uma cotação mais baixa, o que diminui a competitividade", afirma. "Quem agradece é a China, que vai ocupando esse espaço."