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22/04/2010

Um guia para novos negócios

Ricardo Osman

O primeiro ano de atividades de um negócio é um período crucial para a consolidação do projeto. É quando o risco de algo dar errado é elevado ? e a inexperiência do empreendedor pode inviabilizar a operação. Segundo o Sebrae, em São Paulo 27% das micro e pequenas empresas  fecham as portas já no primeiro ano.

O momento atual da economia brasileira é favorável à abertura de novos negócios. O Índice Nacional de Confiança  (INC) bateu recorde em março e há a recuperação dos empregos. Entretanto, os empreendedores devem tentar evitar os erros comuns e fatais que se repetem a cada ano.

As falhas mais corriqueiras são a falta de planejamento na abertura de um negócio, com a ausência de pesquisa sobre o mercado de trabalho em que se vai atuar e a falta de um diferencial no produto ou no serviço que será oferecido. Sem este último elemento, o negócio cai em um lugar-comum onde é grande a concorrência. É como abrir uma pizzaria convencional em um bairro cheio desse tipo de serviço.(veja quadro)

Diferencial ? "Ao abrir um negócio, os empreendedores precisam pensar em algo diferente ?  em oferecer um novo produto ou explorar um novo mercado ou ainda apresentar uma tecnologia original", afirma o professor Marcelo Aidar, do Centro de Empreendedorismo e Novos Negócios da Fundação Getúlio Vargas (FGV) de São Paulo. "A falta de um diferencial é um erro básico, cometido, segundo pesquisa, por cerca de 50% dos novos empreendedores, que não pensam em nenhum desses três pontos citados."

Atenta a essa necessidade de um diferencial, a empreendedora Sandra Roque, paulista de 38 anos, abriu em janeiro deste ano a sua loja Atelier Sandra Roque, localizada na avenida Santa Catarina, na zona sul de São Paulo. Formada em administração de empresas, ela procurou estudar um pouco sobre seu mercado e quando abriu as portas da loja de roupa feminina já tinha nos fundos da casa sua confecção.

Resultado: as clientes podem encomendar peças da coleção com cores novas e tecidos distintos daqueles que são exibidos na vitrine e nas prateleiras. "É mais uma opção para as clientes e, em uma semana, entregamos a peça solicitada", diz Sandra. "Este é o meu diferencial, de grande sucesso."

Antes de abrir sua loja e sua confecção, Sandra não tinha experiência com negócio próprio. Ela trabalhara como funcionária de rede de conveniência e até como vendedora de lojas de shopping. "Mas procurei fazer cursos sobre o assunto para diminuir os meus erros", afirma ela, que investiu R$ 100 mil na loja e na confecção.

Uma falha inicial, já superada, foi a falta de planejamento na produção. Ela dá um exemplo, lembrando que "orientava as costureiras a fazerem peças de cores diferentes num mesmo dia, o que complica o processo". Sandra sistematizou a produção e sua equipe, formada por quatro costureiras, produz cerca de 40 peças por dia.

Planejamento ? O consultor do Sebrae de São Paulo, Renato Fonseca, especialista em empreendedorismo, aponta a falta de planejamento e o amadorismo na gestão ? tanto financeira, quanto comercial e de recursos humanos ? como principais problemas enfrentados nos primeiros anos das micro e pequenas empresas.

"O primeiro ano é o grande teste. Se o empreendedor começar a trabalhar sem cuidados, vai dar trombadas. Ele deve evitar os problemas que podem ser previstos", pondera.  Portanto, não basta ter uma boa ideia na cabeça. É preciso ter visão do mercado, saber em que nicho se está atuando, desenvolver habilidades de vendedor e fazer um plano de negócios para obter lucro com a iniciativa. "A pergunta não é o que devo fazer para abrir um restaurante, mas o que devo fazer para ganhar dinheiro com um restaurante", diz o consultor do Sebrae. "Há uma diferença significativa entre as duas coisas."

 Renato Fonseca garante que planejamento se aprende na escola e em vários cursos que são oferecidos aos empreendedores em São Paulo, sobretudo no Sebrae. E não importa aqui se o candidato é alguém com curso superior, mestrado ou doutorado em determinada área. Um engenheiro da computação não será necessariamente bem-sucedido com uma loja de venda de computadores e acessórios. "É preciso aprender sobre o negócio para tomar as decisões certas."

Erros ?  O professor da Veris Faculdade, Ednei Januário, que defendeu tese de mestrado sobre empreendedorismo na cadeia produtiva aeroespacial do Brasil, analisa os erros dos jovens empresários separando-os em dois grupos.

O primeiro grupo é formado pelos empreendedores por necessidade, que é o caso daquele executivo ou funcionário que perdeu o emprego e que busca abrir o negócio próprio, e o segundo é o dos empreendedores por oportunidade, onde alguém vislumbra uma nova abordagem do mercado. A empresária Sandra Roque está nesta segunda classificação, porque se programou para abrir sua loja.

"As chances de insucesso no empreendedorismo por necessidade são maiores do que no de oportunidade", acrescenta Januário. "Na necessidade, há pouco tempo para o planejamento e muitas vezes nem há qualquer projeção."

 Assim, se você pretende ter seu próprio negócio, comece a pensar nele imediatamente ? fazendo pesquisas sobre o mercado, os produtos e os serviços concorrentes. Fique atento também aos acontecimentos que criam inúmeras chances de negócios.

Como ressalta o professor Marcelo Aidar, além do crescimento da economia brasileira, a Copa do Mundo em 2014 no Brasil e os Jogos Olímpicos marcados para 2016 no Rio de Janeiro irão gerar novas possibilidades de atuação nos negócios. "Os interessados devem identificar, desde agora, as chances de vender produtos e oferecer serviços neste mercado", afirma.

Grandes empresas também tropeçam

Os empreendedores novatos devem saber que  mesmo as empresas mais veteranas ?  que exibem uma trajetória de sucesso e muitas vezes são líderes em seus mercados ?  também cometem erros de avaliação na condução de seus negócios. Afinal, os riscos e os equívocos são parte da atividade empresarial ? tanto no Brasil quanto em outras partes do mundo.

Um ponto importante, contudo, é passar pelas experiências, positivas ou negativas, da melhor forma. "O empresário deve saber lidar com o sucesso e com o fracasso", diz Renato Fonseca, consultor do Sebrae.

Portanto, todo empreendedor iniciante deve sentir-se em boa companhia. O fundador da China in Box, rede de comida chinesa baseada nas entregas em domicílio, Robinson Shiba, tentou na década de 1990 abrir uma loja em Buenos Aires que fugia de seu padrão convencional ? trazendo mesas e cadeiras para os clientes. No entanto, a loja enfrentou um período de crise econômica na Argentina, inicialmente mal-avaliado pela China in Box, e o projeto não deu certo.

Outra experiência negativa foi a iniciativa do fundador da rede Arezzo de calçados femininos, Anderson Birman, de importar para o Brasil certa vez um avião inteiro com tênis. No entanto, a venda do produto nas suas lojas foi um fracasso.

A avaliação de potenciais situações de risco é uma forma de a empresa se prevenir quanto à ocorrência de problemas desse tipo. O criador da rede de restaurantes Habib's, Alberto Saraiva, mostrou jogo de cintura ao desistir do mercado norte-americano logo após os atentados de 11 de setembro de 2001, em Nova York. Saraiva estava pronto para desembarcar em Miami. Mas não era a hora certa para a chegada de uma rede de comida árabe aos Estados Unidos.