2010: Quando o mundo mudou
Este ano que termina foi um grande marco em transformações que se aceleraram e passaram a definir o futuro do planeta, não somente para o próximo ano, mas também para a próxima década, no mínimo.
O grande marco foi a diferença de crescimento econômico.Mas, desta vez, com o quadro invertido, com os países em desenvolvimento, principalmente Brasil, China e Índia, crescendo a taxas muito altas ? oposto ao que aconteceu no mundo desenvolvido, com Estados Unidos, Europa e Japão.
Este quadro econômico também gera profundos impactos políticos. O primeiro deles é a percepção de que os Estados Unidos, considerados como a última superpotência, está em declínio, o que tem efeitos políticos-diplomáticos profundos, uma vez que este país é o principal ator da criação e manutenção das regras internacionais que mantêm a estabilidade global.
Sem essa ação, a tendência à instabilidade deve aumentar. É o que temos visto no impasse das negociações nas reuniões do G20 e Organização Mundial do Comércio (OMC) na questão do programa nuclear iraniano. E, mais recentemente, no caso da possibilidade da volta da guerra na península coreana.
Por outro lado, o ano marcou a China como um novo motor da economia mundial. Mesmo que ainda não substitua os Estados Unidos, com sua importação gigantesca de commodities minerais e agrícolas, têm impulsionado o crescimento de outros países no mundo inteiro, incluindo o Brasil. Mas, com suas exportações de manufaturados, conseguiu acumular reservas internacionais de U$ 2,13 trilhões, o que a tornou no maior investidor no mundo.
É por isso que Ian Bremmer passou a dizer que surgiu definitivamente uma nova forma de organização social que concorre com a ocidental. Segundo o autor, as democracias capitalistas ocidentais passarão a enfrentar a ?concorrência? do capitalismo de Estado, no qual o governo utiliza a economia capitalista para seus fins políticos, tendo como principais expoentes China, Rússia e países árabes. Esse ?novo? modelo atrairia várias lideranças em diferentes regiões do mundo, uma vez que as relações econômicas e diplomáticas não teriam a interferência de valores ocidentais, como democracia e direitos humanos.
Assim, terminamos esse ano com várias crises em diferentes setores, e a tendência para os próximos anos, infelizmente, é que essas aumentem. É neste cenário que se dará a inserção do Brasil sob novo governo.
As condições econômicas globais não serão mais tão benignas como foram em boa parte dos anos do governo Lula. Há a possibilidade de uma nova crise econômica, com a ameaça à moeda comum europeia, o Euro, por causa da recessão e aumento da dívida de vários países, como Grécia, Irlanda, Portugal, Espanha e Itália.
Assim, as posturas do governo Dilma Rousseff serão muito importantes para posicionar o Brasil diante desse novo quadro político-econômico internacional. Cabe questionar se, nesta área, o governo deverá dar mais peso aos interesses econômicos do que a valores básicos, como democracia e direitos humanos. Que todos tenhamos um feliz Ano-novo.
* por Gunther Rudzit, doutor em ciência política pela USP e professor do INPG/Sustentare / artigo publicado no A Notícia de 26.12.2010
Fonte: A Notícia de 26.12.2010