Mercado de trabalho chega perto do "teto"
Taxa de ocupação e aumento da renda indicam que pode faltar mão de obra se economia crescer, dizem analistas. Índice de 5,3% foi o melhor em outubro em dez anos; em SP, indústria demite, mas outros setores compensam.
O resultado da taxa de desemprego em outubro -a menor para o mês em dez anos (5,3%), segundo o IBGE - reflete a melhora da economia no terceiro trimestre, depois do fraco primeiro semestre.
Nos últimos 12 meses, foram incorporados 684 mil trabalhadores ao mercado de trabalho, um crescimento de 3% em relação a outubro de 2011. Foi o melhor resultado desde novembro de 2011.
Esse crescimento fez aumentar a taxa de participação (pessoas empregadas ou à procura de trabalho sobre o total de pessoas com mais de dez anos), índice de indisponibilidade de mão de obra.
A taxa atingiu 58,1%, maior desde setembro de 2003. Na avaliação da economista-chefe da Rosenberg & Associados, Thaís Zara, isso indica que o mercado de trabalho "está perto do limite".
A alta de 4,6% no rendimento do trabalhador, diz, reforça a tese de menor oferta de trabalho, o que obriga empregadores a oferecer melhores salários.
"Uma taxa de participação muito elevada como essa significa que restam cada vez menos pessoas disponíveis para trabalhar. Se a economia estivesse crescendo mais, faltaria mão de obra."
A atividade econômica perdeu fôlego em setembro, mas, ainda assim, fechou o terceiro trimestre com o crescimento mais forte desde os primeiros três meses de 2010, segundo o Banco Central.
A LCA prevê alta de 1,3% para o PIB do terceiro trimestre, superior aos dois trimestres anteriores (0,1% no primeiro e 0,4% no segundo).
A reação animou empresários a contratar, especialmente em setores com melhor desempenho, como construção e comércio -que se destacaram na criação da vagas, ao lado da administração pública.
Mesmo a indústria, que registra queda de produção no ano, sentiu a melhoria do terceiro trimestre, quando sua produção subiu 0,4%.
Após recuo do emprego no setor por seis meses seguidos, houve alta de 0,9%, ante outubro de 2011, mês no qual o setor já contrata para se preparar para as vendas de fim de ano. "A indústria continua fraca, mas está um pouquinho melhor, o comércio e a construção civil acabam compensando", disse o economista da LCA Consultores Caio Machado.
Para Cimar Azeredo Pereira, do IBGE, apesar da aproximação do Natal, a indústria sente mais neste ano a concorrência de importados, principalmente da China.
São Paulo
A maior contribuição para a melhora do emprego veio de São Paulo, onde o emprego reagiu e cresceu 2,3% (218 mil vagas) em relação a outubro de 2010. Foi a melhor marca desde dezembro de 2010.
Com isso, a taxa de desemprego cedeu para 5,9% na região metropolitana.
Ainda assim, a indústria paulista, que é mais diversificada e sofre mais a concorrência de importações, continua a demitir, com corte de 10 mil vagas. A redução foi compensada, porém, com o crescimento de vagas no comércio, no setor de serviços e na administração pública.
Retomada fraca da economia pode levar governo a renovar estímulos
Temor é que recuperação lenta não garanta crescimento acima de 4% no final da gestão Dilma. Entre as medidas que podem ser adotadas está a prorrogação de programa do BNDES com juros negativos.
A demora na retomada dos investimentos causa "inquietação" no governo e gera o risco de a recuperação da economia, já em andamento, não garantir um crescimento acima de 4% nos dois últimos anos do mandato da presidente Dilma Rousseff.
O cenário, considerado "preocupante, mas ainda não alarmante" por assessores, pode levar o governo a adotar ainda neste final de ano medidas para acelerar os investimentos produtivos.
Entre elas está a prorrogação de dois programas que vencem no final de 2012: o PSI (Programa de Sustentação do Investimento) do BNDES, que tem inclusive juros negativos no financiamento de compras de bens de capital, e o Reintegra, que ressarce o exportador pelo pagamento de impostos equivalentes a 3% de suas receitas com vendas externas de manufaturados.
A medida, defendida por setores do governo, é reivindicada por empresários sob o argumento de que só agora, com a volta do crescimento da economia, eles começaram a planejar expansões.
Ou seja, esses programas podem deixar de existir exatamente no momento em que as empresas vão começar a precisar mais deles.
Segundo um assessor presidencial, a avaliação é que o governo conseguiu fazer a economia voltar a acelerar, mas ainda há risco de isso não ser sustentável. Pelos cálculos da equipe econômica, o país já cresce num ritmo acima de 4% nos últimos meses e manterá essa velocidade no primeiro trimestre de 2013.
A dúvida, diz ele, é se esse ritmo será mantido a partir do segundo trimestre de 2013. Para isso, será essencial uma retomada dos investimentos produtivos no país, que registram queda desde o terceiro trimestre do ano passado.
A avaliação do governo é que o investimento voltou a cair no terceiro trimestre deste ano, dado que será divulgado na próxima semana. As previsões apontam que, no acumulado do ano, a taxa pode cair até 3% em 2012.
A equipe econômica argumenta que o investimento sempre é o último a se recuperar, mas admite que, desta vez, "a volta está mais lenta do que o previsto". O ritmo é atribuído principalmente à incerteza na conjuntura internacional e à demora para o Brasil acelerar.
Há também quem aponte como causa as últimas medidas do governo Dilma, mais intervencionistas, como a renovação das concessões do setor elétrico para reduzir as tarifas de energia.
Nesse caso, porém, a avaliação interna é que pode ser o preço a ser pago até que os investidores entendam que acabou a era do "almoço grátis", quando investir no Brasil gerava retornos acima dos padrões internacionais.
A equipe econômica diz que o desafio, no primeiro semestre de 2013, será tocar o pacote de concessões nos setores de rodovias, ferrovias, portos e aeroportos, o que garantiria a recuperação da taxa de investimento.
Ela precisa subir entre 8% e 10% no próximo ano para que o ritmo de crescimento, obtido principalmente por medidas voltadas ao crédito, seja sustentável e garanta expansão na casa de 4% do PIB sem pressões inflacionárias.
Fonte: Folha de S.Paulo