Cai contribuição dos investimentos para o crescimento
Peso dos investimentos na expansão da economia despencou de 37%, nos anos Lula, para 2% sob Dilma. Conta da MB Associados mostra que o consumo das famílias tem sido o principal motor do crescimento do PIB.
A contribuição dos investimentos produtivos - como compras de máquinas e ampliação de fábricas- para a expansão da economia despencou no primeiro biênio do governo de Dilma Rousseff.
De cada R$ 100 de crescimento do PIB (Produto Interno Bruto) nos últimos dois anos, apenas R$ 2 corresponderam a investimentos.
Na era Lula (2003-2010), os investimentos tiveram peso bem maior: responderam, em média, por R$ 37 de cada R$ 100 da expansão geral da economia por ano.
Os cálculos são do economista-chefe da consultoria MB Associados, Sergio Vale.
CONSUMO-MOTOR
O principal motor do crescimento econômico durante a década do PT no poder foi o consumo das famílias, segundo as contas de Vale.
Sua contribuição para a expansão do PIB foi de 75% em média nos anos Lula e aumentou para 87% nos últimos dois anos. O peso do consumo do governo para o crescimento também cresceu.
O cenário de investimentos em queda e dependência cada vez maior do consumo das famílias e do governo para o crescimento econômico do país preocupa economistas.
Menos investimentos diminuem a capacidade de o país crescer de forma sustentada e aumenta o risco de pressões inflacionárias, principalmente com consumo ainda forte.
"Os governos Lula e Dilma estimularam o consumo maciçamente com a expectativa de que os investimentos apareceriam do nada", diz Vale.
Para o economista, a falta de reformas para reduzir a burocracia e melhorar o ambiente regulatório contribuiu para a piora dos investimentos (chamados de formação bruta de capital fixo) nos últimos anos.
Em documento divulgado ontem, o Banco Central afirmou que o crescimento "menos intenso do que se antecipava" está ligado à "fragilidade do investimento", que estaria sendo freado pelo "aumento de incertezas".
Analistas têm atribuído parte da paralisia nos investimentos à interferência do governo em alguns setores e, mais recentemente, ao temor de um possível racionamento de energia.
"Há uma pequena retomada da atividade em curso, mas que pode ser ameaçada ainda pela incerteza em relação à questão da energia", diz Tony Volpon, diretor da corretora japonesa Nomura.
SETOR EXTERNO
Parte do crescimento da demanda doméstica superior à oferta foi atenuada pelo aumento das importações nos últimos anos.
Com isso, a contribuição do setor externo (exportações menos importações) para a expansão do PIB tem sido negativa. Ou seja, o Brasil tem "exportado" crescimento para os países dos quais importa. Mas, segundo analistas, sem a expansão das importações, as pressões inflacionárias teriam sido maiores.
Retomada do PIB ainda é frágil, afirmam analistas
Indicadores recentes da atividade revelam que a recuperação do crescimento ainda é frágil e incerta.
Dados referentes ao desempenho da economia em dezembro são mistos.
Houve piora no fluxo de transporte de cargas nas estradas, na produção de papelão ondulado e na fabricação de caminhões, três medidores do ritmo da economia muito usados pelos analistas.
Isso alimentou dúvidas sobre a força da retomada, principalmente do investimento.
A economista Alessandra Ribeiro, da consultoria Tendências, estima que o PIB (Produto Interno Bruto) tenha crescido menos no quarto trimestre (0,4%) do que no terceiro (0,6%). O dado oficial será divulgado pelo IBGE no início de março.
Com um resultado menor no fim do ano, ela diz que pode revisar para baixo a projeção de crescimento da economia em 2013, hoje em 3,2%.
"A atual dinâmica da economia não nos permite falar ainda em recuperação", diz.
O economista-chefe do Banco Fator, José Francisco Gonçalves, concorda que é cedo para se falar em recuperação. Ele ressalta que a expansão do crédito não deu sinais ainda de reativação: "Desde agosto esperamos uma retomada mais forte do crédito, que não tem ocorrido".
Apesar da fraqueza de indicadores importantes, a confiança do empresário da indústria tem se recuperado.
Outros sinais positivos foram o melhor resultado nas vendas e na produção de carros e nas consultas para concessão de crédito no varejo.
Para o economista Aurélio Bicalho, do Itaú, há sinais de que dezembro foi melhor do que novembro. Mas, para ele, também não é possível falar em recuperação sustentada:
"O problema é que tem ocorrido uma oscilação grande nos indicadores nos últimos três meses. Os resultados mais positivos de dezembro teriam de se manter por período mais prolongado para sinalizar recuperação mais forte da atividade".
A economista Silvia Matos, da FGV, observa que grande parte da insegurança dos analistas em relação à recuperação da atividade reside no comportamento do setor de serviços.
Depois do resultado negativo no terceiro trimestre, ela espera melhora do segmento. Mas insuficiente para recobrar o vigor do crescimento.
"Uma hora são os serviços que caem, em outra, é a indústria. A sensação é que a economia está parada neste início de ano", afirma.
Desvalorização mascara quadro, aponta CNI
A desvalorização do câmbio em 2012 foi decisiva para atenuar a falta de competitividade dos produtos brasileiros.
É o que mostra o Indicador de Custos Industriais (ICI), divulgado pela primeira vez pela CNI (Confederação Nacional da Indústria).
No terceiro trimestre do ano passado -dado mais recente disponível na série histórica que se inicia em 2006-, o preço dos manufaturados nos EUA em reais subiu 25,2% e o dos manufaturados importados cresceu 18,9%, enquanto o custo industrial brasileiro teve alta de apenas 8,1% em relação ao mesmo trimestre do ano anterior.
O real, no entanto, se desvalorizou em 24% no período. Ou seja, boa parte do aumento dos preços lá fora está relacionada à flutuação cambial apenas.
"É possível aumentar a competitividade se os custos do país estão crescendo mais que os preços lá fora? Não. O Brasil tem um problema sério de competitividade", afirmou Renato da Fonseca, gerente-executivo de pesquisa da CNI.
Fonte: Folha de S.Paulo