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28/02/2014

BC sobe juro para 10,75% e taxa volta ao nível do início do governo Dilma

O Banco Central pisou no freio e subiu a Selic, a taxa básica de juros da economia, em 0,25 ponto porcentual, para 10,75% ao ano. Com a decisão desta quarta-feira, 26, o juro volta ao mesmo patamar do início do governo Dilma Rousseff e também da posse de Alexandre Tombini no BC. A decisão foi unânime e sinalizou que o ciclo de aperto monetário está no final ou perto do fim.

Após seis altas consecutivas de 0,5 ponto, o BC resolveu diminuir a dose do aperto monetário. A elevação da Selic ocorre desde abril de 2013. A autoridade monetária tinha sinalizado, ao fim da reunião anterior, em 15 de janeiro, que poderia mudar o ritmo de alta na Selic. Ao incluir a expressão "neste momento", o Copom havia dado a entender que uma mudança na rota dependeria do comportamento dos dados e das expectativas dos agentes financeiros. Agora, a expressão foi retirada.

O aumento menor reflete a percepção da autoridade monetária de uma inflação ainda resistente, mas com sinais de desaceleração da atividade econômica - o PIB do quarto trimestre será conhecido na manhã desta quinta-feira.

"O BC estava se coçando há tempo para diminuir o ritmo do aperto", diz Alexandre Schwartsman, ex-diretor de Assuntos Internacionais do BC. Para ele, o Copom só não tomou essa decisão em janeiro por causa da alta recorde de preços em dezembro. Em 2013, a inflação oficial fechou em 5,91%, superior aos 5,84% de 2012, resultado inverso ao esperado pelo governo.

Desde então, os indicadores econômicos jogaram a favor da tese de que os diretores do BC teriam margem para desacelerar o ritmo de elevação da taxa básica na reunião desta quinta. Números fracos da atividade econômica em 2013 reiteraram a perspectiva de um crescimento modesto do Produto Interno Bruto (PIB) neste ano. A inflação veio um pouco menor do que se esperava em janeiro e nos primeiros dias de fevereiro e houve recuo na valorização do dólar, depois de uma trégua dos investidores aos mercados emergentes.

Fiscal. A última medida que sacramentou as apostas na alta de 0,25 ponto porcentual foi o anúncio da meta de superávit primário de 1,9% do PIB para este ano, mesmo esforço fiscal feito no ano passado. O próprio Tombini destacou o anúncio como importante e o ministro da Fazenda, Guido Mantega, chegou a sugerir que a decisão dos diretores do BC fosse "menos severa".

O diretor de Pesquisas para a América Latina da Nomura Securities em Nova York, Tony Volpon, considera que esse conjunto de fatores permitiu uma atitude "mais suave" do BC. Segundo ele, as oito altas consecutivas, em um total de 3,5 pontos porcentuais, deixou a Selic em um patamar suficiente para levar a inflação de volta à meta, embora de maneira lenta e gradual.

"É como quando você faz uma viagem de carro a 120 km/h e perto do destino decide que pode diminuir um pouco a velocidade porque considera estar perto de onde quer chegar", compara. A Nomura projeta que esta será a última elevação da Selic neste ano, apesar de considerar que o superávit primário anunciado pelo governo, na prática, vai representar economia efetiva para o pagamento de juros da dívida de 1% do PIB.

Acima da meta. Schwartsman discorda da ideia de que o aumento acumulado da Selic é suficiente para o controle da inflação alta. Para ele, a taxa básica de juros deveria atingir o patamar de 12% ao ano para alcançar esse objetivo. No cenário usado como referência pelo BC, a inflação acumularia alta de 5,6% em 2014 se os juros permanecessem em 10% ao ano; o mercado aposta em uma aceleração maior, de 6%, mesmo com uma Selic maior.

Volpon acredita que pesou para a decisão de 0,25 ponto porcentual o fato de que a expansão da atividade neste ano está bastante comprometida. As estimativas mais pessimistas para o PIB de 2014 estão próximas de 1% (a da Nomura está em 1,3%). "Desse nível para recessão não é um grande pulo."

A Selic é um dos principais instrumentos que o BC tem para controlar a inflação. O Copom eleva a taxa de juros básica da economia para aumentar o custo dos empréstimos e, com isso, tirar dinheiro do mercado. Com uma menor oferta de crédito, o consumo desacelera e a inflação tende a perder força.

Na contramão, uma redução nos juros estimula o consumo e a economia porque aumenta a quantidade de crédito oferecido. Em uma economia muito aquecida, os preços tendem a subir com maior velocidade. A taxa básica determina o custo do dinheiro aos bancos e, por isso, serve de base para os juros dos empréstimos a empresas e famílias, cuja taxa média fechou 2013 em 29% ao ano.

O Estado de S. Paulo