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20/03/2015

Emprego formal tem o pior nível em 16 anos

O mês de fevereiro foi o pior em ritmo de criação de empregos formais no País em 16 anos, segundo balanço do Cadastro-Geral de Empregados e Desempregados (Caged) divulgado ontem pelo Ministério do Trabalho e Emprego (MTE). No mês passado, foram fechados 2.415 postos de trabalhos formais no Brasil. No ano passado, para o mesmo mês, haviam sido criadas 260 mil novas vagas. O resultado é o pior, em meses de fevereiro, desde 1999, quando foram fechadas 78 mil vagas, na esteira da crise internacional que teve início em 1998.

Pelo terceiro mês consecutivo, o nível de vagas fechadas superou a de ocupações criadas. No acumulado do ano verifica-se, até agora, uma queda de 80.732 vagas formais no País.

Os segmentos que mais encolheram em postos de trabalho no último mês foram construção civil e comércio. No caso da construção civil, o mês de fevereiro teve fechamento de 25,8 mil vagas. Em comércio, foram 30,3 mil empregos formais encerrados. Os piores meses desde 1992, segundo histórico apresentado pelo Caged.

O Rio Grande do Sul teve desempenho positivo na geração de empregos no mês passado, segundo o Caged. É o segundo mês em que o Estado se destaca no ranking nacional de geração de empregos. Segundo os dados do ministério, o Estado apresentou um saldo positivo de 3.220 postos de trabalho - com 122.804 admissões e 119.584 desligamentos no segundo mês do ano ante janeiro. Os números do Rio Grande do Sul estão inseridos em um contexto de bom desempenho na região Sul, com saldo de geração de 23.902 postos de trabalho nos seus três estados (+0,32% na comparação com o mês de janeiro).

A unidade da federação que mais perdeu empregos foi o Rio de Janeiro, com 11.101 vagas fechadas, no saldo líquido, ou uma redução de 0,3% do número de empregos formais. O ministro do Trabalho, Manoel Dias, reconheceu que a situação da Petrobras e a operação Lava Jato influenciaram a conjuntura dos trabalhadores fluminenses. "Contratos da Petrobras com empresas estão em pleno vigor e em execução, mas há empresas terceirizadas com problemas. Certamente, nesse primeiro momento, a questão da Lava Jato influenciou em redução de empregos. A própria Petrobras, que tinha previsão de investimento de R$ 50 bilhões, previu redução de 20% para se readequar.

Impactos da situação da Petrobras se espalham em outras regiões, como por exemplo, em Pernambuco, disse Dias. O MTE está fazendo um levantamento sobre os efeitos da Lava Jato na situação do emprego em âmbito nacional, comentou o ministro, sem indicar data para a conclusão desse estudo.

Fechamento de vagas reflete menor demanda e queda de investimento, diz professor

O professor doutor da Universidade de São Paulo e pesquisador da Fundação de Pesquisa e Desenvolvimento da Administração, Contabilidade e Economia (Fundace/USP), Luciano Nakabashi, afirmou que o saldo negativo de 2.415 vagas formais de emprego apontado pelo Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged) em fevereiro reflete a menor demanda e a queda nos investimentos no País. "A situação era esperada, porque a economia vem devagar desde 2013 e, em algum momento, isso iria bater no emprego. Isso só não ocorria por conta das políticas de estímulos à demanda", disse.

Segundo ele, com a retirada dos "estímulos artificiais" de consumo pelo governo, setores como construção civil e comércio se retraíram, e o impacto chegou ao emprego. O investimento para o consumidor são bens duráveis, como imóveis, e "esse cenário de retração na construção civil geralmente acontece em todas as recessões", exemplificou.

Nakabashi considerou o fechamento de 25.823 vagas na construção civil em fevereiro mais impactante que a redução de 30.354 vagas do comércio, pelo fato de esse último setor ser o maior empregador da economia. No entanto, segundo o professor da USP, os dados mostram que o comércio também sente a perda de empregos em outros setores e já esgotou a capacidade de absorver a mão de obra dispensada por esses segmentos, como ocorria no passado.

JCRS