Empresas americanas trazem mais lucros para casa
Multinacionais com sede nos Estados Unidos repatriaram, no ano passado, estimados US$ 300 bilhões em lucros obtidos em outros países — o maior valor em quase uma década. Os recursos fazem parte de uma enorme pilha de dinheiro existente no exterior e desencadearam uma investigação minuciosa de reguladores e legisladores americanos.
Dezenas de empresas que fazem parte do índice S&P 500, como eBay Inc., EBAY -2.44% VeriSign Inc. VRSN -1.75% e StrykerCorp., reservam esses lucros para recomprar ações, usar em investimentos de capital, como fábricas e equipamentos, e até para financiar as operações do dia a dia.
Em dólares, os lucros repatriados ou destinados para repatriação pelas empresas americanas em 2014 cresceram 7% ante o ano anterior, segundo relatório do Credit Suisse Group AG CS -0.93% . Foi a transferência de recursos mais agressiva desde 2005, quando elas levaram para casa US$ 359 bilhões depois de o Congresso americano ter autorizado uma isenção do pagamento da taxa de imposto de 35% cobrada das empresas.
O motivo para o movimento recente não é tão claro. “Ainda é um mistério”, diz Anthony Carfang, sócio da Treasury Strategies Inc., uma consultoria de Chicago. “Deve haver formas de usar o dinheiro nos EUA que garantem uma taxa maior de retorno para as companhias.”
Mesmo assim, as empresas americanas ainda estão sentadas em um recorde de US$ 2,1 trilhões de lucros obtidos no exterior, incluindo cerca de US$ 690 bilhões em dinheiro.
Algumas empresas continuam relutantes em transferir os recursos. O dólar mais valorizado corrói os lucros gerados em moedas estrangeiras. E há reivindicações em Washington para uma reforma fiscal este ano, o que incentiva algumas empresas a esperar e ver o que vai acontecer.
Há poucas razões aparentes “para as empresas trazerem dinheiro de volta nesse momento”, diz Carfang.
As empresas americanas pagam impostos sobre os lucros obtidos no exterior nos próprios países onde esses ganhos foram gerados. Mas elas não têm que pagar impostos nos EUA sobre esses lucros caso os recursos sejam “indefinidamente reinvestidos” no exterior.
Uma companhia pode, por exemplo, usar os recursos para expandir sua equipe de vendas local ou comprar uma empresa concorrente.
Mas se ela levar o dinheiro de volta para os EUA ou fizer planos de fazê-lo, terá que pagar a diferença entre o imposto pago no país de origem e o imposto americano, que é geralmente mais alto. E deve registrar o imposto em seus registros contábeis. A maioria das empresas tenta encontrar formas de anular os impostos adicionais com créditos.
Embora a análise do Credit Suisse esteja limitada ao S&P 500, as empresas que não fazem parte do índice também usaram seus lucros obtidos no exterior no ano passado.
Em 2013, a fabricante de calçados Crocs Inc. CROX -1.97% reclassificou US$ 165 milhões de seu lucro fora dos EUA como elegível para repatriação em 2013. Ela registrou impostos de US$ 11,7 milhões, mas esperou um ano para levar o dinheiro para casa. A Crocs usou uma combinação de incentivos fiscais para doações para caridade e créditos vinculados a compensações em ações não utilizadas para reduzir o pagamento de impostos para a Receita Federal, segundo o diretor financeiro Jeff Lasher.
“Estamos tentando reduzir os recursos taxados a zero”, diz Lasher. A Crocs usou o dinheiro para recomprar ações e financiar suas operações americanas.
As recompras se tornaram um uso popular para o dinheiro repatriado. O site de compras eBay reservou US$ 9 bilhões no ano passado para repatriar para os EUA, um total que seria usado para financiar recompras de ações ou aquisições nos próximos meses. A empresa registrou Us$ 3 bilhões em impostos americanos na transação.
O operador de registros de internet VeriSign repatriou US$ 741 milhões no ano passado e usou pelo menos parte do valor para tirar US$ 867,1 milhões em ações do mercado. A empresa compensou os impostos com créditos que ganhou quando ela liquidou uma subsidiária no ano anterior.
Outras estão usando esse dinheiro para pagar dívidas. A Teleflex Inc., TFX -0.69% uma empresa de aparelhos médicos, repatriou US$ 237,1 milhões no ano passado para pagar US$ 235 milhões que havia tomado emprestado através de uma linha de crédito bancário.
Preocupações com o custo de uma auditoria fiscal ou multa podem estar motivando algumas empresas americanas a trazer o dinheiro de volta. Analistas do Credit Suisse dizem que as empresas podem estar encontrando dificuldades para provar que seus lucros estrangeiros são investidos indefinidamente, principalmente vultosas somas simplesmente paradas em contas correntes.
O Conselho de Supervisão Contábil de Empresas de Capital Aberto, o órgão fiscalizador do governo americano, alertou recentemente que iria prestar mais atenção à maneira com que auditores tratam esses lucros originados no exterior. O Departamento do Tesouro, por sua vez, está tentando dificultar que empresas americanas comprem estrangeiras com o objetivo de realocar sua sede para um país com impostos menores.
No mês passado, o presidente Barack Obama propôs permitir que empresas repatriem seus lucros originados em subsidiárias no exterior a uma taxa de 14% de imposto e, depois, estabelecer uma taxa mínima de 19% para os lucros repatriados posteriormente.
The Wall Street Journal