Sustentabilidade depende de líderes convictos
Para adotar a sustentabilidade, não basta apenas querer, mas, primordialmente, ter um líder que acredite apaixonadamente no tema. É essa, pelo menos, a opinião do consultor e escritor especialista no assunto, Ricardo Voltolini, que palestrou, ontem, no segundo dia de eventos do Congregarh 2015, em Porto Alegre. "Pela experiência que temos com as empresas, dá para se dizer que até pode acontecer sem essa premissa, mas é muito mais difícil", contextualizou o diretor-presidente da consultoria Ideia Sustentável, que atua na área desde 1998.
"Na época, falar sobre sustentabilidade era praticamente pregar no deserto, pois era muito difícil conseguir conectá-lo ao negócio na visão dos empresários", conta Voltolini, para quem o cenário mudou, com o amadurecimento das empresas sobre o tema, a partir da metade da década passada. Mesmo assim, muitas companhias continuaram a negligenciar o conceito, executando, por exemplo, apenas uma etapa de projetos que exigiriam pelo menos outras cinco, sem realmente adotar os princípios da sustentabilidade.
A diferença entre elas e as empresas realmente sustentáveis, segundo o consultor que já prestou serviços a diversas grandes corporações, reside, principalmente, na existência ou não de um líder que realmente acredite, e muito, na sustentabilidade. Outros diferenciais seriam a visão nas oportunidades e não nos riscos envolvidos, a inserção dos valores éticos, de transparência e de relacionamento com a sociedade e o meio ambiente nas estratégias da companhia, e a educação.
"Se você me perguntar o que há de novidade aqui, digo que nada. Todos fomos educados a ter respeito ao outro, fazer as coisas certas, mas parece que, quando se entra em uma empresa, troca os seus valores pelos da companhia", argumenta. Voltolini remete ao caso de uma empresa, ex-cliente sua, onde após o treinamento de 7 mil funcionários, o projeto foi cancelado pela descoberta de que a diretora de sustentabilidade da empresa respondia a 43 processos por assédio moral. "Além dos óbvios valores humanos, a sustentabilidade também traz ganhos financeiros", complementou o consultor, citando o caso do Banco Real, um dos pioneiros no tema, que, após perder clientes por se recusar a emprestar dinheiro a empresas que desmatavam florestas, acabou tendo o seu valor multiplicado graças ao capital intangível construído em torno da sustentabilidade. "Os líderes sustentáveis estão nas bordas, nas periferias, e cabe às empresas que pensam no futuro fazer com que eles floresçam e não que murchem, como geralmente acontece", concluiu.
O 8º Congregarh é organizado pela seccional gaúcha da Associação Brasileira de Recursos Humanos (ABRH-RS). Para o presidente da entidade, Orian Kubaski, o evento, embora desafiador pelo momento econômico do País, atingiu as expectativas, com mais de 1,1 mil inscritos. "Percebemos um clima de otimismo no congresso", constatou. "Sempre haverá um deserto entre um oásis e outro, a empresa só precisa aprender a passar por ele. Se possui líderes, gente com a mente aberta, com conhecimento, com capacidade de inovar, passará tranquila e estará preparada para o outro oásis que logo chegará", afirmou Kubaski.
JCRS