Empresários acreditam que ajuste fiscal terá impactos negativos
O ajuste fiscal e os cortes orçamentários promovidos pelo governo federal não agradaram os empresários brasileiros. Uma pesquisa realizada pelo Serviço de Proteção ao Crédito (SPC Brasil) e pela Confederação Nacional de Dirigentes Lojistas (CNDL) em todos os estados brasileiros mostrou que 75,4% dos entrevistados no Brasil e 82,5% na região Sul acreditam que os ajustes e cortes terão um impacto negativo na economia.
O estudo mostra ainda que o ajuste fiscal proposto enfrenta resistência do empresariado: 61,4% das empresas no País e 57,7% no Sul afirmam que o ajuste não é necessário e que as medidas são um retrocesso para o País, além de aumentar os problemas e retardar a volta do crescimento.
A economista-chefe do SPC Brasil, Marcela Kawauti, acredita que alguns indicadores do Sul têm percentual maior que a média nacional porque a população está dando mais atenção para questões políticas e econômicas, uma vez que o juiz federal Sérgio Moro, que conduz a operação Lava Jato, está no Paraná. "A região Sul acaba tendo mais conhecimento das informações", avaliou.
Marcela explicou que apesar de o ajuste ser um remédio amargo, nas contas do governo é necessário e tinha que acontecer agora. "O governo sabia há três anos que estava gastando demais. Agora houve piora na economia, mas o governo teve que fazer o ajuste", disse.
Segundo ela, o ajuste implica em aumento da arrecadação do governo que dependeria de crescimento da atividade econômica, num momento que a economia está fraca. "O ideal seria que o governo tivesse feito o ajuste em 2013", destacou. Para ela, os principais efeitos negativos que vêm com o ajuste são queda de vendas, redução no lucro das empresas e demissões.
Marcela acredita que os efeitos de longo prazo do ajuste demoram para acontecer. E prevê que os resultados serão percebidos quando melhorar a confiança dos investidores estrangeiros no Brasil. Os principais efeitos devem ser investimentos de longo prazo, taxa de juros e inflação menores.
Vendas
Além do impacto dos ajustes fiscais, também foram analisadas as consequências previstas para os empresários sobre os cortes orçamentários anunciados pelo governo. Três em cada quatro (75,7%) empresários no Brasil e 80,3% no Sul acreditam que os cortes irão diminuir as vendas de sua empresa. Já 77,6% no País e 81,5% no Sul afirmam que o lucro diminuirá.
Outro reflexo dos ajustes fiscais e cortes orçamentários é o número de demissões. Para 66,1% dos entrevistados, os empregos serão mantidos, mas outros 26% afirmaram que farão cortes em suas equipes no Brasil. Na região Sul, 27,2% pretendem demitir. No Nordeste, o número de empresas que demitirão funcionários atinge 39,9%.
Faturamento
Para 67,5% dos empresários no Brasil e 67,3% no Sul, os impostos irão aumentar até o final do ano. A consequência disso, para eles, será a diminuição do faturamento da empresa, citado por 73,6% na média nacional e 76% no Sul. Aparecem ainda a retração do consumo e a diminuição das vendas para 73,1% no País e 76,1% no Sul, e a diminuição do crescimento da empresa de 54,6% na média nacional.
Quando perguntados sobre o acesso a crédito, 74,6% dos empresários no Brasil e 67,3% no Sul afirmaram que contratar empréstimos está mais caro, com juros mais altos nos últimos três meses. Para 51,5% dos entrevistados no Brasil, essa modalidade é importante para o crescimento dos negócios, mas afirmam que agora não é a melhor hora para iniciar essa pendência, já que o cenário econômico está pouco favorável.
"Ainda que as medidas econômicas sejam importantes a longo prazo, é para o momento atual que boa parte dos empresários espera resultados e benefícios, e por isso talvez o ajuste não seja bem recebido", disse o presidente da CNDL, Honório Pinheiro. "Para esses empresários, o ajuste pode trazer graves consequências de imediato, diminuindo o consumo dos brasileiros, encolhendo os lucros e dificultando a capacidade de as empresas tomarem capital", afirmou.
Folha de Londrina