Mercado vê corte nos juros em outubro após comunicado do BC
Em seu primeiro comunicado em novo formato após a decisão do Copom, o Banco Central abarcou todas as dúvidas que o mercado financeiro tem sobre a economia e apresentou elementos para as próximas decisões. Deixou bem claro ao final da nota mais extensa do que a habitual que não há espaço para uma redução imediata da taxa básica de juros. Talvez nem neste ano. O mercado, porém, enxerga a possibilidade de corte já em outubro, com a Selic encerrando o ano em 13,25% ao ano.
O economista Luiz Fernando Castelli, da GO Associados, afirma que o BC eliminou as chances de corte na Selic em agosto. “O BC destacou a implementação do ajuste fiscal, mostrando que o corte só deve vir quando medidas como a PEC dos gastos estiver bem encaminhada”, afirma. “E isso depende da redução de incertezas políticas e a conclusão do processo de impeachment, o que deve vir somente no final do mês.”
Castelli acredita, portanto, que a redução dos juros só deve começar a acontecer na reunião de outubro, com corte de 0,50 ponto porcentual. “As pistas devem vir no RTI (Relatório Trimestral de Inflação) de setembro”, diz.
Já para o economista-chefe da Garde Asset Managment, Daniel Weeks, o BC deve cortar juros no último trimestre do ano, possivelmente na reunião de novembro. O analista afirma que o comunicado do BC reduz as probabilidades de corte de juros na reunião dos dias 30 e 31 de agosto, apesar de não as eliminar por completo.
Weeks diz que até a próxima reunião do Copom a aprovação de medidas fiscais – citada pelo BC no comunicado como fator de risco doméstico para a inflação – terá andado pouco no Congresso. Por isso, as chances de corte no próximo mês são muito baixas. “Ao deixar explícito que não há espaço para flexibilização da política monetária e ponderar o balanço de riscos negativos para a inflação, o BC, a priori, tira as probabilidades de corte em agosto, mas não elimina”, comentou o economista. “O BC tende a ser paciente e conservador.”
O economista-chefe do Banco Santander, Maurício Molan, discorda e afirma esperar um corte de 0,5 ponto porcentual na Selic já em agosto. Para outubro e novembro, o economista espera outros cortes de 0,5 pp.
Na avaliação de Molan, há espaço para melhorar o balanço de risco, passando pela redução das expectativas de inflação na esteira da descompressão da inflação dos alimentos. “De hoje a um mês e meio, o câmbio deverá pressionar a inflação para baixo”, previu. Perguntado se, na sua avaliação, o cenário que contempla melhora na inflação pesa mais que o cenário externo, apontado pelo BC como o contraponto do cenário inflacionário mais benigno, Molan disse que a transmissão das condições externas para a economia brasileira se dá por meio do câmbio.
“O externo se manifesta no câmbio. Na ata anterior, o Copom chamava a atenção para os preços dos ativos. E de fato, o que estamos vendo é uma conjuntura com forte entrada de capitais no Brasil, melhora da confiança. Por isso não descartamos corte da Selic já em agosto”, disse o economista.
Inflação
Levar a inflação para o centro da meta em 2017, conforme promete Ilan Goldfajn, só será possível sob o ponto da perspectiva atual, se o BC não mexer na taxa básica de juros até o fim do ano que vem, como pressupõe o cenário de referência. Esse modelo leva em consideração também a estabilidade do câmbio por todo o período e o movimento do dólar nos últimos meses tem sido de baixa, o que pode ajudar a despressurização da inflação.
O BC ainda deve contar com a ajuda fiscal para entregar o seu trabalho no fim de 2017, mas deixou claro que essa questão não está resolvida. “Incertezas quanto à aprovação e implementação dos ajustes necessários na economia permanecem”, trouxe o comunicado.
O documento mostra mais uma vez que o foco da autarquia está em 2017. Não fez qualquer menção à meta de inflação deste ano e, mesmo sobre o ano que vem, exibiu muita cautela ao apresentar o que é de conhecimento da cúpula do BC até agora. O novo formato do comunicado trouxe, portanto, muito mais informação do que o modelo anterior. Resta saber agora, o que a ata do Copom da semana que vem poderá acrescentar.
Estadão