Banco Central mantém pela 7º vez seguida taxa básica de juros em 6,5%
Em seu último ato, o Banco Central comandado pelo economista Ilan Goldfajn decidiu ontem manter a Selic (os juros básicos da economia) em 6,50% ao ano. Foi a sétima reunião consecutiva do Comitê de Política Monetária (Copom) em que a taxa seguiu no atual patamar. No próximo encontro do colegiado, marcado para o fim de março, a tendência é que o economista Roberto Campos Neto já esteja no comando do BC.
A decisão de ontem – a primeira após Jair Bolsonaro (PSL) ter assumido a Presidência da República – era largamente esperada pelos economistas do mercado financeiro. De um total de 51 instituições consultadas pelo Projeções Broadcast, todas projetavam manutenção da Selic em 6,5% ao ano.
Embora a Selic esteja no nível mais baixo da história, a taxa de juros real (descontada a inflação) do Brasil é a sétima maior do mundo. Ranking elaborado pela Infinity Asset Management e pelo site MoneYou indica que o juro real brasileiro está em 2,38% ao ano. Taxas reais mais elevadas são registradas em países como Turquia (5,88%), Argentina (4,92%) e México (4,22%), considerando o conjunto das 40 economias mais relevantes do planeta
Ilan, que anunciou que deixaria o BC no fim do ano passado, aguarda apenas o nome de Campos Neto ser aprovado pelo Senado para transferir o comando, o que deve ocorrer nas próximas semanas. Além de Campos Neto, o Copom passará a contar com dois novos nomes entre seus nove integrantes: João Manoel Pinho de Mello e Bruno Serra Fernandes.
Apesar das mudanças que se aproximam, o Copom deu indicações ontem, em sua decisão, que os juros tendem a permanecer no atual patamar pelos próximos meses. O baixo nível de inflação e a fraqueza da atividade econômica justificam isso.
No comunicado sobre a decisão, o Copom manteve em 3,9% sua estimativa para o IPCA – o índice oficial de preços – em 2019, no cenário que considera a taxa de juros e o dólar projetados pelo mercado financeiro. Para 2020, a inflação esperada foi de 3,6% para 3,8%. Nos dois casos, os porcentuais estão abaixo das metas de inflação perseguidas pelo BC, de 4,25% para este ano e 4,00% para o próximo, com margem de tolerância de 1,5 ponto porcentual para mais ou para menos.
Gradual
O BC avaliou ainda que a economia brasileira está em recuperação apenas “gradual”. Ao mesmo tempo, afirmou que os riscos de curto prazo relacionados ao movimento de alta de juros em economias avançadas, como os Estados Unidos, diminuíram. Porém, a autarquia alertou que os riscos de desaceleração da economia global aumentaram, em função de fatores como disputas comerciais entre países e o Brexit – o processo de saída do Reino Unido da União Europeia.
Neste ambiente de inflação baixa, atividade em marcha lenta no Brasil e riscos de curto prazo menores no exterior, alguns economistas do mercado financeiro avaliavam, antes da decisão de ontem sobre a Selic, que o BC poderia iniciar, em 2019, um ciclo de mais cortes da taxa básica – e não de alta.
No entanto, para o economista Luciano Sobral, do Banco Santander, não há nada no comunicado de ontem que “sugira que o BC esteja pensando em cortar juros, como tem aparecido no mercado”. O economista Julio Cesar Barros, da Mongeral Aegon Investimentos, avaliou que o comunicado sugere “juros constantes por tempo mais prolongado”.
Resta saber se, com a chegada de Campos Neto à autarquia, a avaliação será a mesma.
Fonte: Estadão