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07/12/2021

Com pandemia, criação de pequenas empresas aumenta 19% no terceiro trimestre

A partir do interesse pelos diferentes estilos de cerveja – mais de 150 existem no mundo todo – Daiane Colla e Rosária Penz Pacheco decidiram se tornar sommelières, mulheres especialistas da bebida. Depois de quase uma década de estudos, pesquisas e consultorias para concursos de cerveja nacionais e internacionais, elas decidiram empreender e abriram uma empresa de recrutamento e seleção focada em contratar quem queira trabalhar no mercado de bebidas (fábricas, bares, restaurantes, distribuidoras, lojas).

Fermenta Pessoas chegou ao mercado em agosto, mesmo mês em que 382.766 pequenos negócios foram abertos e contribuíram para que no terceiro trimestre mais de 1,1 milhão de CNPJs – entre Microempreendedores Individuais (MEI) e micro e pequenas empresas participantes do Simples Nacional -, fossem criados, segundo levantamento divulgado primeiramente pelo Valor Investe.

Os dados da plataforma Contabilizei apontam para um crescimento de 19% em comparação com o mesmo trimestre de 2020, quando foram abertas 927.228 empresas. Na comparação por trimestres, o terceiro trimestre de 2021 demonstrou um crescimento de 7,8% considerando o total de empresas abertas (MEI e Não MEI) em comparação ao segundo trimestre. Já em comparação com o primeiro trimestre, o crescimento foi um pouco mais tímido (1,1%).

Os três estados da região Sudeste lideraram o movimento de crescimento, seguidos de Paraná e Rio Grande do Sul. Para desenvolver o estudo, o escritório de contabilidade, criado em 2013, usou a base de dados com mais de 30 mil clientes e informações públicas da Receita Federal.

“Quando comparado a 2019, antes da pandemia, esse crescimento é ainda maior, de 33%, considerando os terceiros trimestres de 2021 e 2019. Mesmo diante das dificuldades, com alta de preços e perda da renda, estamos vendo o início da recuperação da atividade econômica no Brasil”, avalia Guilherme Soares, vice-presidente de crescimento da Contabilizei.

Ao se observar o período de janeiro a setembro de 2021, foram abertas 3,2 milhões de empresas no Brasil. Desse total, 77,6% das novas empresas são MEI (Microempreendedor Individual). Num contexto de mais de um ano e meio de pandemia da covid-19, é de se esperar que o quantitativo de empreendedores por necessidade cresça. Mas, na análise do professor de Finanças do Instituto de Ensino e Pesquisa (Insper)Ricardo Rocha, a criação de novas pequenas empresas é explicada, também, por outros fatores presentes na economia há mais tempo.

“O aumento do número de pessoas jurídicas de pequeno porte foi acelerado pelo ambiente de formalização criado no governo da presidenta Dilma Rousseff, que beneficiou especialmente quem precisava de acesso à crédito. Eram pessoas que já trabalhavam, mas que não conseguiam ter conta em banco ou contratar funcionários por não existirem para o Sistema Financeiro Nacional (SFN)”, comenta, destacando que os negócios do comércio e de serviços foram os mais impactados positivamente.

Ao se observar o desempenho destes dois setores no terceiro trimestre de 2021, os dados do Contabilizei indicam que as empresas de Serviços respondem por 56% do total de abertura de CNPJ (622.501). Já os negócios de Comércio somaram 393.046 (35% do total de 1,1 milhão). Em terceiro lugar, aparecem as Indústrias de pequeno porte (8% do total – 83.570).

Rocha destaca que o crescimento dos novos negócios também se explica pela crise do modelo de consumo — iniciada nos governos Lula-Dilma e acentuada com a covid-19 no governo Bolsonaro —, e, também, pelo que o pesquisador chama de jornada profissional individual.

“O MEI e o Simples trazem formas de gerar rendimentos e, obrigatoriamente, recolher impostos e ter algum tipo de proteção. Isso é importante diante do aumento da longevidade, que está fazendo com que as pessoas percebam que vão precisar trabalhar mais. Então, muitos, mesmo com carteira assinada CLT, estão abrindo consultorias para prestar seus serviços. Alguns crescem ao ponto de essa atividade virar, de fato, o seu principal negócio“.

O movimento descrito por Rocha foi vivido, em partes, por Daiane e Rosária. Antes de criarem a sociedade para atender as empresas do setor cervejeiro, de vinhos, cachaça, kombucha, e café, as duas já trabalhavam como profissionais liberais. Mas isso só aconteceu depois de um bom tempo conciliando as antigas profissões: Daiane era jornalista e Rosária era executiva em um dos maiores bancos do país.

O que esperar para o último trimestre de 2021?

Levando em consideração que 3,2 milhões de empresas foram abertas nos primeiros nove meses – o que equivale a 98,5% do total de aberturas em todo o ano de 2020 e ultrapassa número de novas empresas em todo o ano de 2019 -, a Contabilizei estima que, neste ritmo, o ano de 2021 termine com cerca de 4 milhões de novas empresas criadas.

“Estamos otimistas que diversos setores da economia, como turismo, eventos e food service (serviços de alimentação) vão ampliar a recuperação neste quarto trimestre, fechando 2021 de forma positiva”, destaca Guilherme Soares.

O professor Insper, Ricardo Rocha, acredita que a tendência de criação de novas empresas também deve se confirmar, mas por razões que vão além de um cenário futuro sem pandemia. “Vai vai ser muito difícil todo mundo voltar a ser CLT. Os custos trabalhistas são elevados no Brasil, apesar da reforma trabalhista“.

Para as sócias sommelièreso trabalho remoto também deve continuar incentivando o surgimento de novos negócios. “A pandemia facilitou nosso processo porque trabalhamos de forma remota com clientes de todo o Brasil, com quase todo o atendimento feito de forma on-line e interativa. Isso facilita nosso trabalho de acompanhar contratante e contratados durante os 90 dias do período de experiência”, finalizam.


Fonte: Valor