icon
(47) 3326-3677

Blumenau / SC

icon
Atendimento

Segunda à Sexta
8h às 12h - 13h às 17h30

icon
Área Restrita

Exclusiva para Clientes

15/09/2004

Micro e pequenas buscam credibilidade no mercado

A burocracia para obter financiamento junto a instituições financeiras tradicionais é um entrave insuperável à maioria das micro e pequenas empresas. Para algumas, porém, o volume de exigências é apenas um desafio à persistência. A recompensa é a oportunidade de comprovar a capacidade de pagamento, passaporte para novos créditos. A lição vem de uma distribuidora de produtos terapêuticos e naturais. Por coincidência, um mercado onde a credibilidade também é moeda forte. O primeiro financiamento foi obtido com ajuda do Serviço de Apoio às Micro e Pequenas

Empresas do Rio Grande do Sul (Sebrae/RS) que, além de orientação sobre linhas de financiamento disponíveis para empresas já constituídas, oferece o trabalho de consultores especializados na formatação do Projeto de Viabilidade, exigido de empreendedores iniciantes por instituições estatais. Na Serra, a entidade apóia uma iniciativa que deve entrar em operação este ano e busca uma solução para outro problema: a exigência de garantias financeiras extras. Tudo com a finalidade de possibilitar a inclusão de 46% dos pequenos empreendedores gaúchos, que não dispõem de recursos para oferecer até 150% do valor tomado, conforme apurou pesquisa sobre crédito divulgada este ano pelo Sebrae.

Opequeno empresário Edgar Host Altenbernd, sócio de uma distribuidora de produtos terapêuticos e naturais, em Porto Alegre, garante que nunca teve problemas para obter crédito. Depois de conseguir R$ 15 mil junto à Caixa Econômica Federal (CEF) e o Serviço de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae), há cinco anos, e quitar a dívida no prazo estabelecido, ele já tomou emprestados R$ 7 mil da Portosol e conseguiu outros R$ 20 mil da CEF. Ao mostrar que é bom pagador, conquistou a chave do cofre, geralmente lacrado para os pequenos empreendedores: credibilidade.
?Nunca tive um oferecimento de crédito tão grande quanto agora?, afirma o empresário de 73 anos, ressaltando que bancos não emprestam dinheiro por filantropia. ?É preciso um bom histórico, ter pertinácia e atender o que se chama de reciprocidade?, ensina.

Os recursos foram usados para aumentar o capital de giro da empresa que existe há 13 anos, distribui 600 itens a cerca 650 clientes no Rio Grande do Sul e emprega cinco pessoas, além de vendedores autônomos.
Altenbernd já era correntista da CEF quando obteve o primeiro crédito e acha que o fato contou pontos, mas teve que atender a burocracia que mantém micro e pequenas empresas excluídas do mercado de crédito convencional. ?Por isso, é preciso persistência?, reforça.

A relação padrão de documentos para microempresas que se atrevem a pleitear crédito junto à CEF hoje tem 14 itens. ?São exigências que não têm fim e o último item é formado por documentos complementares?, reclama João Luis Schroeder, sócio-gerente de uma empresa de propaganda, serigrafia e gráfica de Bento Gonçalves. Depois de procurar dois bancos públicos em busca de financiamento para capital de giro e renovação do maquinário, o empresário desistiu por causa da burocracia. ?Nem falamos em dinheiro, pediram toda a documentação para começar a conversar. Mas só para isso, levaríamos um mês.?

Com dez anos de mercado e 20 empregados diretos, além dos terceirizados no desenho e na arte final, a microempresa deve recorrer à iniciativa privada e a outras alternativas, apesar das taxas mais altas.

A relação de documentos para microempresas que desejam encaminhar proposta de empréstimo junto à CEF inclui comprovante de regularidade com o FGTS, cópia da declaração de Imposto de Renda da Empresa do último exercício e dos sócios, cópia dos comprovantes de pagamento (Darf) do Simples dos últimos dois anos, cópia da documentação comprobatória de propriedade de bens, demonstrativo econômico-financeiro e documento hábil de garantia de operação.

Segundo o gerente de Crédito e Fomento do Sebrae/RS, Joni Frank da Rocha, as exigências feitas pelos bancos são até maiores para micro e pequenas empresas. ?A grande empresa já tem um patrimônio, oferece mais garantias, tem um relacionamento com o banco?, justifica. ?Já a pequena empresa é novidade, o banco não conhece?, compara.

Um exemplo é a exigência de aval de 100% a 150% do valor das máquinas e equipamentos financiados por iniciantes. ?Pode ser visto como burocracia, mas é a segurança que o banco tem?, resume, lembrando que o risco é da instituição que concede o crédito.

Por isso, defende, vale a pena insistir e buscar as possibilidades de financiamento especial para empresas de pequeno porte, como cooperativas de crédito, apesar do volume mais escasso de recursos. ?Identificamos mais de 300 combinações possíveis nos diversos segmentos de negócios?, acrescenta. A oferta pode ser acessada no site do Sebrae (www.sebrae-rs.com.br).

Uma pesquisa realizada pela entidade com 597 micro e pequenas empresas gaúchas, divulgada em julho, apurou que 65% dos entrevistados desconheciam a existência de linhas de crédito específicas para o setor. Das que estavam cientes, apenas 50% sabiam que instituições atuavam com essas linhas.
Além de informações sobre crédito, o Sebrae disponibiliza consultores especializados para formatar o Projeto de Viabilidade exigido pelo Bndes e Banco do Brasil para iniciantes, em projetos a partir de R$ 25 mil ou R$ 60 mil, dependendo do gerente.

O custo da credibilidade, nesse caso, é 2% do valor financiado, em caso de aprovação. Se o pedido for reprovado, a taxa é padrão: R$ 150,00. ?Dos projetos realizados pelo Sebrae, 80% são aprovados, também por outros fatores?, assegura Rocha.

Em busca de uma solução para o problema do aval, a entidade apoia a criação da Associação de Garantia de Crédito da Serra Gaúcha, que deverá começar a funcionar este ano. O modelo importado da Região de Vêneto, na Itália, vai oferecer a garantia exigida pelas instituições financeiras. ?Segundo a nossa pesquisa, 46% das empresas não têm acesso ao crédito em função dessa exigência?, informa o gerente de Crédito e Fomento do Sebrae/RS. O projeto terá parte dos recursos financiados pelo Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID).

Entidades criticam volume de exigências

O anúncio de que o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (Bndes) está disponibilizando R$ 1,3 bilhões para capital de giro a micro, pequenas e médias empresas não anima as entidades do setor. Segundo os dirigentes, embora não tenham que apresentar plano de aumento de postos de trabalho para terem acesso à linha de crédito, as empresas interessadas precisarão vencer dificuldades por causa da burocracia.

?O dinheiro está disponível, ouço isso há mais de dez anos, mas os bancos não querem emprestá-lo para a microempresa?, acusa o presidente do Sindicato das Microempresas do Estado (Sindimicro), Sérgio Bernardes Carvalho. ?São tantas exigências que nunca se chega ao fim?, argumenta, acrescentando que o percentual de empresas que estão em dia com o fisco - um dos pré-requisitos - é reduzido.

Ele diz que a linha de crédito deveria ser exclusiva para os pequenos empreendedores para ter efeito. ?Empresas médias tiram R$ 100 mil, a micro quer R$ 1 mil?, compara. ?Para quem o banco prefere emprestar??, ironiza.

O presidente da Comissão da Pequena e Média Indústria (Copemi) da Fiergs, Werner Müller, também cobra mais flexibilidade dos bancos. ?Há dois meses encaminhamos um pleito ao Banco do Brasil para que disponibilize linhas de crédito para exportação como alternativa ao trading, que tem custo mais alto?, informa. O problema atinge em especial o setor calçadista nos vales do Sinos e Paranhana.

Para ele, o novo financiamento que faz parte do Progepem (Programa de Geração de Produção e Emprego), destinado a empresas com capacidade ociosa de produção que necessitem de capital de giro, não deverá atingir os pequenos.

Contas demonstram capacidade de pagamento

O profissional contábil é geralmente acionado para lidar com a burocracia que envolve a busca de financiamento junto a instituições financeiras. Mas mais do que providenciar a documentação solicitada pelo banco, ele colabora para promover a credibilidade do cliente no trabalho cotidiano e tem ainda condições de orientar a escolha.

Conforme o gerente de Crédito e Fomento do Sebrae/RS, Joni Frank Costa, contador por formação, empresas que possuem contas organizadas levam vantagens óbvias nesse quesito. ?Como eu demonstro a minha capacidade de pagamento se eu não tiro nota fiscal de tudo que eu vendo??, questiona.

Costa lembra que, muitas vezes, a necessidade de crédito é apenas conseqüência do mal gerenciamento do negócio. Um erro comum no caso de quem está iniciando um negócio, exemplifica, é usar todo recurso próprio para aquisição do capital imobilizado. ?O empreendedor fica sem capital de giro, vai buscar no mercado e encontra taxas altas?, resume. Uma análise atenta das contas por um profissional especializado, poderia prevenir o problema.

A busca de apoio em consultoria de negócios, pode fazer diferença entre a vida e a morte empresarial. ?A pesquisa sobre as causas de mortalidade das empresas apurou que 50% fecham até o terceiro ano, mas outra, feita entre as empresas acompanhadas pelo Sebrae, mostrou que 75% sobreviveram.?

?O papel do contador é muito importante. Ele precisa se valorizar em termos de controles internos, capacidade de pagamento, assumir a posição de um consultor financeiro?, opina. ?E parte do empresariado deve mudar a visão que tem do contador,? acrescenta.
Fonte: Jornal do Comércio RS