'Bondades' interrompem recordes na arrecadação
Deixando a era dos recordes para trás, a Receita Federal arrecadou R$ 29,233
bilhões em março. É um valor 0,04% menor, em termos reais, do que o registrado
em março do ano passado.
As medidas de corte nos impostos incidentes
sobre máquinas e equipamentos e material de construção, o alongamento do prazo
para as empresas pagarem seus impostos e outras "bondades" adotadas a partir do
ano passado começam a mostrar seus efeitos na forma de redução nas receitas da
União.
Os total de impostos acumulados neste ano, porém, ainda está 1,7%
maior, em termos reais, do que o valor recolhido entre janeiro e março de 2005.
"Se conseguirmos manter a arrecadação igual ou superior ao ano passado,
será um resultado positivo", afirmou o secretário-adjunto da Receita Federal
Ricardo Pinheiro. "Significa que podemos enfrentar medidas de desoneração
tributária sem perdas de arrecadação."
Na avaliação de Pinheiro, a
desaceleração no crescimento da arrecadação deverá reduzir a pressão por uma
nova rodada de cortes tributários.
Antes de avaliar novas "bondades"
será necessário verificar se a arrecadação é suficiente para cobrir os gastos
previstos no Orçamento de 2006.
Pinheiro não adiantou números, mas
indicou que dificilmente a Receita conseguirá aumentar a arrecadação em R$ 15,6
bilhões, como previu o Congresso. "Só fazemos 110% do que é humanamente
possível; milagres, só no andar de cima", brincou.
Outro fator que
interrompeu a era de recordes na Receita foi que setores como mineração,
siderurgia, elétrico e telefonia deixaram de crescer no ritmo acelerado
registrado em 2005.
Segundo Pinheiro, esses setores vinham de um período
de retração e se recuperaram no ano passado. Com isso, puxaram a arrecadação do
Imposto de Renda da Pessoa Jurídica (IRPJ) e Contribuição sobre o Lucro Líquido
(CSLL) em 2005 e levaram os recolhimentos tributários a bater recordes.
Agora, a tendência é de acomodação, disse Pinheiro. "O crescimento da
arrecadação vai ficar mais apertado e mais dependente do crescimento econômico."
Comparando os resultados de março passado com março de 2005, o destaque
é a queda real de 7,65% nos recolhimentos do Imposto sobre Produtos
Industrializados (IPI) na categoria "outros", que exclui automóveis, bebidas e
cigarros. Ela é explicada pela redução a zero do IPI sobre máquinas e material
de construção.
Também houve queda nos recolhimentos de Imposto de Renda
Retido na Fonte (8,34%), Imposto sobre Operações Financeiras (14,35%) e
Contribuição Provisória sobre a Movimentação Financeira (4,34%) explicada
sobretudo porque o recolhimento desses tributos passou de semanal a mensal, a
partir da "MP do Bem".
Com isso, uma parte do que teria sido recolhido
em março só entrará no caixa em abril. Por outro lado, os recolhimentos do IPI
sobre automóveis cresceram 6,02% devido ao incremento de 5,1% nas vendas no
mercado interno.
PREVIDÊNCIA
Embora a Super Receita
ainda não tenha sido aprovada pelo Congresso, os dois órgãos que a formarão
(Receita e Previdência) já estão divulgando seus resultados conjuntamente. Se a
Super Receita existisse, sua arrecadação teria sido de R$ 39,275 bilhões em
março, um recorde para o mês. Foi um crescimento real de 4,2% sobre fevereiro e
de 2% sobre março do ano passado.
Fonte: O Estado de S.Paulo