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04/08/2006

Nem tudo é festa

O comércio exterior do Brasil bateu novos recordes em julho. As exportações chegaram a US$ 13,6 bilhões, as importações a US$ 7,9 bilhões e o saldo ficou em US$ 5,6 bilhões. Todos os valores são inéditos e causaram surpresa até ao ministro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, Luiz Fernando Furlan. Os números, no entanto, podem esconder problemas. Os resultados vistosos dos últimos anos deixam em segundo plano as sérias dificuldades do país em competitividade, em especial os gargalos logísticos, e a importância ainda pequena da inovação nos processos produtivos nacionais (veja quadro).

Há ainda muito por fazer, como a própria dimensão do comércio externo brasileiro demonstra. Afinal, mesmo com os avanços recentes, o país ainda é muito pequeno no mercado globalizado, respondendo por apenas 1,1% do comércio mundial. E mesmo sendo a maior economia da América Latina e a 13ª do planeta, o Brasil fica bem atrás no ranking dos maiores exportadores, na 23ª posição.

Os dados divulgados ontem também disfarçam outros pontos importantes. O mais imediato é o efeito da greve da Receita Federal nas exportações e importações de julho. ?Houve uma compensação dos últimos três meses, principalmente de maio, que teve crescimento zero?, afirmou Furlan, admitindo surpresa com o recorde histórico no superávit de US$ 5,6 bilhões. Segundo o secretário de Comércio Exterior, Armando Meziat, não se pode avaliar o desempenho de julho isoladamente. ?Foi um mês que sucedeu uma greve de dois meses, tinha muita coisa retida na importação e na exportação?, explicou.

Além disso, boa parte do excelente desempenho da balança comercial deve ser creditada a um momento favorável nos preços de produtos importantes da pauta brasileira. Campeões, como minério de ferro, soja, petróleo, álcool e açúcar mostram valorização excepcional, com aumentos de preços internacionais entre 17,9% (ferro) e 55% (álcool e açúcar). Ao mesmo tempo, em muitos casos a quantidade exportada é menor.

?O volume do comércio exterior brasileiro já não ostenta o dinamismo dos três anos anteriores. De fato, o crescimento acumulado em 12 meses do quantum exportado em junho, de 4,7%, é significativamente inferior ao crescimento que o FMI projeta para as exportações mundiais em volume no corrente ano (de 8%)?, alerta o Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (Iedi). Segundo o secretário de Comércio Exterior, nem mesmo a excessiva valorização do real frente ao dólar afetou o resultado das exportações. Mas a explicação pode estar no que sugere o Iedi: crescimento econômico abaixo do nível mundial e preços internacionais aquecidos.

Nas contas dos especialistas, mesmo o que parece um ótimo desempenho em exportações e importações sofre conseqüências do atraso de investimentos em infra-estrutura das últimas décadas. Estima-se que é preciso investir US$ 80 bilhões para que o Brasil tenha, daqui 10 anos, seu sistema logístico competitivo em relação aos demais países. Os custos com logística no Brasil correspondem de 30% a 35% do preço final dos produtos exportados, enquanto em países desenvolvidos esse custo é de 10% a 12%.

Pesquisa da Confederação Nacional dos Transportes aponta que 80% das rodovias estão em estado ruim. Os portos, por onde escoam 90% das exportações, são mais lentos até que concorrentes de países em desenvolvimento, para não mencionar que são rasos demais os navios que fazem o comércio mundial ? profundidades entre 10m e 15m, enquanto portos europeus têm mais de 20m de profundidade. ?A redução do custo logístico seria extremamente benéfica para o país, mas, infelizmente, não temos nenhuma perspectiva quanto a isso?, lamentou o secretário Meziat.

Real continuará forte
Apesar das constantes reclamações de que o real forte prejudica suas vendas, os exportadores brasileiros vão ter que aprender a conviver com um câmbio valorizado. Segundo estimativas de analistas, o fluxo de divisas para o país, vindo tanto do comércio exterior como de aplicações financeiras em busca de juros ainda enormes, deve continuar alto neste e no próximo ano.

?As perspectivas são de que o real continue valorizado. Para ganhar espaço no mercado mundial, as empresas terão que se tornar mais competitivas. Pelo lado do câmbio, não vai dar?, assegura a economista Alessandra Ribeiro, da consultoria Tendências. Nas suas contas, depois de as exportadoras pagarem despesas no exterior, o saldo de dólares mantidos no país ficará em US$ 43,5 bilhões neste ano. A projeção para o ano que vem é menor, mas ainda muito alta: R$ 22,7 bilhões.

Para Alessandra, as medidas adotadas pelo governo para dar uma força ao dólar, anunciadas na semana passada, surtirão efeito contrário em médio prazo. Como as empresas terão custos burocráticos e tributários menores, poderão repassar o ganho para os preços dos produtos, tornando-os mais competitivos. Isso dará um impulso maior às vendas, contribuindo para fortalecer o real frente ao dólar. O contrário do desejado. Ontem, o ministro da Fazenda, Guido Mantega, descartou a edição de medidas adicionais para a área cambial. Segundo ele, as ações anunciadas são suficientes e devem levar, na sua opinião, a uma atenuação da valorização da taxa de câmbio.
 
Governo
Portos ?Navios ficam três dias na fila para entrar nos portos. Na Europa, esse prazo é de, no máximo, 3 horas

Estradas ? Entre 2002 e 2005, o percentual das rodovias federais em mau estado pulou de 59,1% para 80,3%

Armazenagem ? A produção de grãos saltou 62% de 1994 a 2003, enquanto a capacidade de estocagem subiu 7,4%

Empresas
Inovação ? As exportações brasileiras apresentam intensidade tecnológica muito menor do que a média mundial

Diferenciação de produto ? Apenas 1,7% das empresas inovam e diferenciam produtos

Cultura exportadora ? Empresas devem pensar no mercado externo não apenas como um destino para excedentes
 
País menos vulnerável
O excelente desempenho das exportações é o principal responsável pela redução da vulnerabilidade externa do país, fato tão comemorado pelo governo. Impulsionadas pelas vendas externas, as transações correntes do Brasil com o exterior tiveram um superávit de US$ 12 bilhões no acumulado dos últimos 12 meses, o equivalente a 1,41% do Produto Interno Bruto (PIB).

O governo está aproveitando o grande volume de divisas para comprar dólares e aumentar suas reservas internacionais. O ministro da Fazenda, Guido Mantega, celebrou o fato de o valor das reservas ter ultrapassado em US$ 734 milhões a dívida externa da União. O entusiasmo foi tanto que ele chegou a dizer que a situação era inédita ? na verdade, ela já havia ocorrido em 1998.

Além dos efeitos positivos para as contas gerais do país, exportar mais traz dinamismo para a economia. Para competir em boas condições no mercado internacional, as empresas são forçadas a investir, aumentar a produtividade e melhorar a qualidade dos produtos. Os benefícios internos são um maior crescimento econômico, a geração de emprego e renda.

Fonte: Correio Braziliense