Aumento do calote faz subir a taxa de juros no comércio
A alta da inadimplência nos últimos meses já começa a pressionar os juros cobrados dos consumidores. Em julho, a taxa média cobrada pelo comércio subiu pelo terceiro mês consecutivo e atingiu 6,24% ao mês, a maior desde setembro de 2003, segundo levantamento da Associação Nacional dos Executivos de Finanças, Administração e Contabilidade (Anefac). Nesse período, o Banco Central (BC) reduziu a taxa básica (Selic) em 1 ponto porcentual, de 15,75% para 14,75% ao ano.
O vice-presidente da Anefac, Miguel José Ribeiro de Oliveira, explica que o movimento dos juros no crediário pode ser atribuído à preocupação dos agentes financeiros com o aumento das inadimplência. Ele comenta que em 12 meses, até junho, segundo dados do BC, o índice de inadimplência (acima de 90 dias) havia subido 2,4 pontos porcentuais, para 11,4%.
"Nessa modalidade de crédito, há muito consumidor de baixa renda comprando e se endividando além do que ganha", afirma o economista. Segundo ele, outra explicação está no crédito consignado. Como o desconto das parcelas do empréstimo é feito direto na folha, sem nenhuma interferência do consumidor, a alternativa é atrasar outras contas.
"Para compensar essa inadimplência, o mercado aumenta os juros para todo mundo. Os bons pagam pelos maus pagadores", afirma Oliveira. O aumento do calote também apareceu nos balanços dos bancos referente ao primeiro semestre de 2006.
Na média, no entanto, os juros cobrados de pessoa física recuaram 0,04 ponto porcentual, para 7,52% ao mês - a menor desde maio. Das seis linhas pesquisadas pela associação, quatro mostraram queda nas taxas, uma teve alta e outra ficou estável.
Apesar da média ter caído, as taxas ao consumidor ainda estão extremamente elevadas. Os juros do empréstimo pessoal dos bancos caíram 0,04 ponto porcentual, para 5,57% ao mês. A taxa anual recuou de 92,51% para 91,64%. O cheque especial apresentou a maior queda em julho. O corte foi de 0,10 ponto, de 8,11% para 8,01% ao mês.
No segmento de pessoa jurídica, a taxa média ficou praticamente estável, com ligeiro recuo de 0,01 ponto porcentual, para 4,33% ao mês. Das quatro linhas pesquisadas, duas tiveram queda: desconto de cheque (0,05 ponto porcentual) e conta garantida (0,04 ponto), cujas taxas são de 3,87% e 5,55% ao mês, respectivamente.
O desconto de duplicatas apresentou alta de 0,04 ponto porcentual no período e atingiu 3,74% (57,72% ao ano). Apenas em uma linha de crédito, o capital de giro, a taxa ficou estável, em 4,16%.
RANKING
Segundo o levantamento da Anefac, o Estado campeão na cobrança de juros é o Rio Grande do Sul, com taxa média de 6,47% ao mês ou 112,19% ao ano.
Em seguida aparecem Paraná (6,36%), Rio de Janeiro (6,34%) e Minas Gerais (6,32%). No ranking nacional, com sete Estados, São Paulo figura como o que tem a menor taxa média de juro do País, com 5,81% ao mês ou 96,93%
Segundo Oliveira, da Anefac, o aumento do volume de crédito ofertado pelas instituições financeiras nos últimos anos é ótimo para o País e os consumidores.
Mas é preciso ter cautela para não se enrolar, ficar inadimplente e, conseqüentemente, com o nome sujo no praça. Em primeiro lugar, diz ele, é preciso organizar o orçamento doméstico para definir suas necessidades e planejar os gastos.
Fonte: O Estado de S. Paulo