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01/09/2006

'O governo é sócio do juro alto pois arrecada imposto'

No dia em que divulgou o balanço do segundo trimestre, o banco inglês HSBC - o maior do mundo por ativos - anunciou também que um brasileiro ocuparia, pela primeira vez, a presidência de suas operações no Brasil. Trata-se de Emilson Alonso, paulistano de 51 anos, que trabalha na filial brasileira do HSBC desde que o grupo chegou ao País, em 1997. Nesta entrevista ao Estado, Alonso revela ter opiniões fortes sobre temas espinhosos, como spread bancário, taxa de juros e concorrência do setor.

Qual a avaliação do sr. sobre o pacote que o governo prepara para reduzir o spread bancário?

É muito positiva, a começar pelo cadastro positivo. É fundamental para podermos ter taxa de juros justa para o tomador.

E as medidas para reduzir o custo do crédito imobiliário?

Lançamos um produto que tira a TR do financiamento. A taxa de juros será fixa, de 1% ao mês por dez anos. Tudo dentro das regras do Sistema Financeiro da Habitação. Hoje, não posso perdoar a TR, pois a legislação não permite. O que talvez venha é uma lei que diminua essa burocracia.

O que espera do produto?

Hoje fazemos entre 250 a 300 transações/mês. Espero que cheguemos a mil transações/mês em 12 a 18 meses.

Existe concorrência no Brasil?

Claro. É um dos países mais competitivos. É um setor muito parecido. Lançamos esse produto imobiliário e outros bancos já têm algo semelhante.

A concorrência não é maior por causa do juro alto?

Juro alto é conseqüência. Os bancos têm posições em títulos públicos. Mas a maior parte está em fundos de investimento, fundos de pensão. Os juros beneficiam quem tem dinheiro no Brasil. Podemos até discutir se estão em um nível adequado ou não. As taxas são muito altas. Poderiam ser muito mais baixas. Com nosso nível de percepção de risco, nossos fundamentos econômicos, poderiam cair muito. Mas é uma decisão de Banco Central e de governo, que é sempre conservador. Há concorrência, as taxas são altas e os spreads também por causa dos custos intrínsecos.

Quais são esses custos?

Uma cunha fiscal desgraçada. O governo é sócio do juro alto, dos spreads bancários, porque arrecada imposto. Temos os depósitos compulsórios. 47% dos depósitos à vista são depositados no BC sem remuneração. Outros 25% vão para crédito agrícola, com taxa de 8,75% ao ano. Isso custa.

Para o spread cair, então, é preciso ter medidas mais profundas?

A taxa básica tem de cair. Temos de reduzir imposto. Não é possível oferecer empréstimo com taxa de 6% ao ano se a básica é de 14,75%. Emprestamos a 12% no imobiliário pois há funding direcionado para isso.

Alguns bancos puseram o pé no freio em relação ao crédito por causa da inadimplência. E o HSBC?

No 2º semestre do ano passado, percebemos que a inadimplência ia crescer. Pagamos a conta no balanço de 31 de dezembro. Hoje a inadimplência está controlada e cadente. Nossos concorrentes, até por uma questão de contabilização, correram o 2º semestre de 2005 mais forte e pagaram um pedaço da conta agora no 1º semestre.

O crédito no País bateu no teto, se levarmos em conta as condições macroeconômicas?

O crédito cresceu 26% em 2004, quando o PIB se expandiu 4,9%. No ano passado, o Brasil cresceu 2,2% e o crédito, 22%. Estou falando isso há algum tempo. As pessoas já estão endividadas e tomam mais ainda. Dar crédito já não adianta, pois o sujeito está tomado.

Fonte: O Estado de S. Paulo