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05/10/2004

Nordeste é "eldorado" para executivos

A região nordeste é o novo Eldorado dos executivos brasileiros, segundo o Ministério do Trabalho. Embora os salários fiquem aquém dos que ganham os colegas do Centro-Sul do País, o número de executivos que encontraram na região um emprego no topo da pirâmide dos assalariados cresceu 161,3% desde 2000. O salário médio, porém, é de R$ 2.329. Na região Sudeste, os executivos recebem em média R$ 7.119.

O aumento dos cargos de chefia deveu-se principalmente à expansão do setor de serviços, particularmente em telefonia fixa e celular, energia elétrica e bancos, na esteira da privatização. Isso fica evidente no número de empregos de alto escalão criados nesses segmentos entre 2000 e 2003, que no Nordeste passou de 2.674 para 8.990.

O Ministério do Trabalho traçou o primeiro mapa dos mais altos salários com carteira assinada nos cinco principais ramos da economia no País: indústria, comércio, serviços, agropecuária e construção civil. O estudo, que usa dados do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged) e considera como executivos diretores e gerentes, mostra que os salários mais baixos estão no comércio e na agropecuária.

"O Brasil está se desconcentrando. Acho que as regiões metropolitanas estão vivendo uma ressaca de um modelo de desenvolvimento que já não funciona", afirma o economista André Urani, do Instituto de Estudos do Trabalho e Sociedade (Iets), lembrando que, como a tecnologia reduziu as distâncias, os profissionais já não temem ir para o interior ou centros urbanos fora do eixo Rio-São Paulo.

Pelos mesmos motivos do crescimento do emprego no Nordeste - a expansão dos serviços - houve também um aumento de 41,39% das vagas de alto escalão na região Centro-Oeste, de 20,88% no Norte, e de 17,05% no Sul. O deslocamento levou a um enxugamento de 2,25% nos cargos executivos no Sudeste.

"O que se percebe é que a área de serviços vem ampliando o número de vagas para profissionais mais qualificados em regiões menos desenvolvidas", diz o coordenador-geral de Emprego e Renda do Ministério do Trabalho, Carlos Augusto Simões Gonçalves, responsável pelo levantamento.

O presidente das Centrais Elétricas de Goiás (Celg), José Paulo Loureiro, de 39 anos, é um bom exemplo do sucesso dos executivos fora das metrópoles. À frente da empresa desde janeiro de 2003, com salário de R$ 20 mil, bem acima da média dos demais executivos brasileiros, ele tirou do buraco a estatal que, por estar fadada à privatização, não recebia mais investimentos. Ele acaba de ganhar o Prêmio Mérito em Administração, oferecido pelo Conselho Nacional de Administração (CLA).

Loureiro admite que, se vivesse fora de Goiás e optasse por uma empresa privada, poderia estar ganhando o dobro:

"A qualidade de vida de Goiânia é incomparável. Tenho muitos colegas que estão se transferindo. Não dá para abrir mão de um lugar seguro para criar os filhos".

O estudo mostra que ter alto cargo nem sempre significa um grande salário. Em Rondônia, no Norte, os executivos ganham em média R$ 1.957, enquanto na região Sul um alto funcionário de uma empresa agropecuária recebe R$ 1.689. O mapa não leva em conta os rendimentos indiretos dos executivos, como pagamento de aluguel e passagens internacionais, carros, entre outros. Além disso, os baixos salários refletem a presença de firmas menores e a ausência de gigantes nacionais e internacionais, ainda concentradas nos grandes centros.

Apesar do crescimento significativo dos cargos executivos nas regiões Nordeste, Norte e Centro-Oeste, a geografia salarial acompanha a distribuição da riqueza no país. Os altos executivos do Rio de Janeiro e de São Paulo disputam os mais altos salários: em média, R$ 7.612,20 no Rio e R$ 7.855,40 em São Paulo. Em todo o país, os maiores salários são Pagos pela indústria: R$ 10.836,93 em São Paulo e R$ 9.687,00 no Rio.

Segundo o Ministério do Trabalho, quanto mais pobre a região, menor a distância entre os maiores e menores salários na empresa. Na região Nordeste, por exemplo, a média dos salários dos executivos é 294% acima da média dos demais trabalhadores, incluindo os que recebem o salário mínimo. Já na região Sudeste, essa diferença é de oito vezes, ou 714% maior. E na região Sul, a diferença é de quase sete vezes.

Os dados do Caged têm forte concentração do setor privado. No setor público - segundo dados da Fundação Getúlio Vargas - os executivos brasileiros têm salários mais elevados do que os de países como a Argentina, Bolívia, Colômbia, Costa Rica e Equador.

Se considerados os ganhos indiretos como assentos em conselhos fiscais de empresas estatais, moradia e passagens aéreas, muitos servidores brasileiros ganham como seus colegas de EUA, Inglaterra e Espanha. Só perdem para o México.

"Como a sociedade não aceita que altos funcionários ganhem bem, cria-se uma estrutura de rendimentos acobertando os ganhos reais dos servidores", avalia o professor Nelson Marconi, da PUC e da FGV, autor da pesquisa.

Pelos números, um secretário de ministério, segundo na hierarquia, ganha US$ 4.088,00 - incluindo ganhos indiretos - contra US$ 1.594 dos vizinhos da Argentina e US$ 1.174 dos bolivianos.

Comparando o incomparável

Num primeiro momento, quem compara acha que existe uma grande distância entre os salários que ganham os executivos lá fora e os que recebem os brasileiros, usando como único fator conversão da moeda estrangeira para o real. Na Suíça, por exemplo, um alto funcionário ganha em euros o que equivale a R$ 34,5 mil brutos por mês; na Áustria e na Dinamarca, R$ 25,79 mil; e nos Estados Unidos, R$ 27,96 mil. No melhor desempenho do Brasil, a média da indústria em São Paulo é de R$ 10,8 mil. Incluindo todos os setores e até cargos em companhias estatais, a média cai para R$ 5,4 mil.

Os dados internacionais são da Mercer Human Resource Consulting no Brasil. Para o especialista em mercado de trabalho Lauro Ramos é difícil dizer se os salários dos executivos brasileiros são mesmo muito defasados em relação aos dos demais países por causa do custo de vida.

Os preços de serviços pessoais, como restaurantes, cabeleireiros, combustíveis, energia elétrica e moradia são muito mais baratos no Brasil. Se for feita a conversão em dólar e comparados os preços desses serviços, disse ele, a diferença entre os salários internos e os pagos lá fora fica menor, diz o especialista.

"Mesmo corrigidos pela taxa de câmbio, os salários brasileiros não são tão inferiores como parecem a princípio. Os preços dos serviços no País são bem abaixo dos de outros países. Além disso, devido às chamadas vantagens pessoais, os salários brasileiros são bem maiores que os valores que aparecem em carteira", disse Lauro Ramos, economista do Instituto Brasileiro de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea).

Tanto que, completa ele, executivos brasileiros já buscam na Justiça a incorporação à renda de indenizações por demissão ou afastamento da empresa os ganhos indiretos, como moradia, carros e passagens aéreas.

Estrangeiros em serviços temporários

Atraídos por salários médios de R$ 20 mil mensais, executivos dos mais diversos países entram todos os anos no País para prestar serviços temporários. O Rio de Janeiro é campeão - na frente até de São Paulo - na importação de funcionários especializados e de alto escalão, principalmente em prospecção e pesquisa de petróleo, tecnologia em pesca submarina e setor siderúrgico. Só este ano, o Rio já recebeu 7.595 destes profissionais, que somam 49.771 nos últimos sete anos.

Os números da Coordenadoria-geral de Imigração do Ministério do Trabalho mostram que se o Brasil tivesse profissionais para competir no mesmo pé de igualdade com os estrangeiros, 104.997 brasileiros teriam conseguido uma vaga de 1998 até agora.

Além dos setores de petróleo e pesca, muitos profissionais vieram implantar sistemas sofisticados na área de automação bancária, telefonia e energia elétrica. Segundo a coordenadora-geral de Imigração, Hebe Teixeira Romano, a ordem do governo é não permitir a entrada no País de profissionais que possam competir com trabalhadores brasileiros que tenham o mesmo grau de especialização.

"Eles têm que provar que são os melhores. Só permitimos a entrada se os profissionais ou as firmas contratantes provarem que não existem profissionais similares no País. Se omitem dados, ou dão informações erradas, estão sujeitos às leis brasileiras e podem ser punidos pelo Código Penal por crime de falsidade ideológica", garante Hebe Teixeira Romano.

Pelas leis brasileiras, o trabalhador estrangeiro só pode permanecer no País por um período de dois anos. Mas caso ele regresse ao país de origem poderá ter renovada a autorização para voltar ao Brasil. Pelos números do Ministério do Trabalho, nos últimos sete anos, os Estados Unidos enviaram ao Brasil 18.028 profissionais; a França, 6.373; a Inglaterra, 6.060; a Alemanha, 5.908; e a Itália, 4.543. China, Japão e Espanha são responsáveis pelo envio de cerca de três mil profissionais cada.

Pelos números do governo, Rio e São Paulo foram, de longe, os que mais receberam estrangeiros nos últimos anos. Além dos cerca de 50 mil que trabalham ou trabalharam no Rio, São Paulo recebeu outros 37.715. A Paraíba, principalmente devido a atividades ligadas à mineração, foi o terceiro estado a receber estrangeiros, num total de 3.288.

Além daqueles trabalhadores, cuja função ou especialidade não têm profissionais similares no País, cerca de 1.438 trabalhadores entraram no Brasil sem vínculo empregatício nos últimos anos para prestar assistência técnica considerada estratégica para as empresas.

Salário nem sempre é o fator preponderante

Recife (AG) - Pelo menos três tipos de executivos são facilmente identificáveis entre os que trocam o Sul pelo Nordeste: os que, mesmo ganhando menos, preferem a região em nome da qualidade de vida e aqueles que, com a carreira em declínio, optam por ganhar menos do que em seus estados de origem, mas também enfrentar menos competição. Mas o tipo mais comum hoje é o executivo amante do desafio. Ele vem em busca de crescimento profissional e se dedica de corpo e alma à ampliação de mercado da empresa em que trabalha. No fim, terminam achando que também crescem como pessoas e até se sentem culturalmente mais ricos.

Esse é o caso do paulista Aguinaldo Claret, 39 anos. Ele mora há um ano e meio em Pernambuco, onde veio assumir a Diretoria Norte-Nordeste da Ramos Transportes. A empresa existe há 66 anos e hoje tem representações espalhadas por todo o País, sendo que só no Nordeste possui 20 unidades. Funcionário da transportadora desde 1999, na qual atuou como gerente comercial em São Paulo, Claret veio para Recife com a missão de formar uma nova diretoria e constituir equipe para a área. Recrutou dois profissionais no seu estado de origem e três na própria região. Ele acha que desde que chegou ao Nordeste só fez crescer:

"Eu tenho que ser realista. Está se abrindo aqui uma grande oportunidade de trabalho. E isso funciona como um laboratório para mim. Lá no Sul, as empresas são mais estruturadas. Aqui tive de montar equipe, escolher pessoas, desenvolver procedimentos. É um trabalho árduo, mas sou apaixonado por desafio", conta Claret, à frente de uma área que envolve nove estados nordestinos, além de Pará e Tocantins. Ele acrescenta:

"Estou impressionado com a diversidade cultural da região, e por esse motivo sinto que venho crescendo não só profissionalmente, mas também como ser humano", completa.

O executivo diz que o trabalho na região contribui inclusive para rever conceitos sobre a região, normalmente associada à seca e às carências sociais. Claret diz ainda que nem sabe se um dia volta a trabalhar no Sul-Sudeste. E emenda:

"Por enquanto, não penso nisso. Minha família se adaptou bem à região e isso ajuda bastante. Estou no meio do projeto e não tenho data fixa para sair daqui", diz ele.