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18/09/2006

Mulheres conquistam novos espaços no trabalho contábil

Cada vez mais a mulher vem ocupando espaços em diferentes setores de atividades, muita destas posições consideradas redutos masculinos. Muitas crenças com relação à diferença dos sexos estão caindo, principalmente aquelas que atribuíam ao homem o domínio inquestionável da matemática. Durante séculos, ciências como a física, a engenharia, a astronomia, a química e a contabilidade foram consideradas matérias inadequadas para as mulheres. De uns tempos para cá, em países como a Suécia ou a Islândia, as mulheres conseguem melhores resultados do que os homens nos exames de matemática e física. Atualmente, em 22 nações européias, nos testes de álgebra dos vestibulares, elas se saem melhor do que os homens.

Como a mulher passou a ocupar posições que antes eram masculinas, inclusive tornando-se chefes de família, elas também começaram participar mais ativamente da vida econômica, política e social do País. "As mulheres definem seus papéis no empreendedorismo, assim como em temas que passam pela política até a qualidade de vida", enfatiza o presidente do Sescon-RS, Luiz Carlos Bohn. Hoje, conforme o Conselho Federal de Contabilidade, as mulheres representam 36% dos profissionais de todo o País, "uma força que cada vez se expande mais, comprovando a real participação feminina em nossa atividade", destaca Bohn.

A contadora e coordenadora-geral do Comitê Setorial do Sescon-RS, Inelva Fátima Lodi, é exemplo de mulher empreendedora. Há 15 anos montou seu escritório de contabilidade em Porto Alegre e hoje comanda uma equipe formada por cinco mulheres e dois homens. "Nunca me senti prejudicada no mercado de trabalho. Pelo contrário, muitos clientes me elogiam e gostam do atendimento que recebem do escritório", enfatiza Inelva. Na contabilidade, assim como em diversas áreas do conhecimento, vem aumentando o número de profissionais mulheres.

As razões podem ser várias, mas as contadoras justificam que as mulheres são mais detalhistas e organizadas, características fundamentais para exercer a atividade. "Os homens, por outro lado, são mais práticos, ideais para certos trabalho, como a confecção de balanços contábeis", enfatiza ela.

O fato de o nível salarial na área ser considerado alto, foi importante para esse aumento do número de mulheres na profissão, mas também as características próprias das mulheres como o detalhismo e a dedicação, ingredientes necessários ao bom desempenho das funções contábeis, foram essenciais. Essa é a opinião da coordenadora do Grupo de Mulheres do Conselho Regional de Contabilidade (CRC-RS), Tanha Maria Schneider. "Atuo profissionalmente há muitos anos no meio empresarial e não posso dizer que sofri algum tipo de preconceito no trabalho. Aparecem situações inusitadas que, muitas vezes, inibem a participação da mulher, como convites para jogar futebol, pescarias, que em relação ao homem são fatores que contribuem para integração com clientes e fornecedores", explica Tanha.

No Grupo de Mulheres do CRC-RS, os principais assuntos abordados atualmente são o aprimoramento técnico-cultural das profissionais da contabilidade, o desenvolvimento de ações de incentivo a uma maior participação das mulheres na vida profissional, social e política do País, além do incentivo da participação dela nas entidades da classe contábil e a promoção de debates sobre as condições de trabalho feminino contribuindo para a melhoria da sua qualidade de vida e a conscientização sobre a sua importância no mercado de trabalho.

"A diferença no trabalho diário da mulher para o homem é a questão do acúmulo das tarefas de casa, que necessitam ser administradas e para as quais há a necessidade de dispor de algum tempo, levando as mulheres, muitas vezes, a possuírem uma carga de trabalho bem superior aos homens de forma a atender a todas estas questões", ressalta Tanha. Na opinião dela, as mulheres estão com uma carga de trabalho grande, atendendo seu lar e atuando profissionalmente, mas esse esforço em conciliar as situações faz com que elas adquiram uma maior versatilidade frente aos desafios impostos pelas organizações.

Elas têm mais vagas, mas ainda ganham menos
Mesmo sendo maioria no mercado de trabalho, especialmente em vagas que exigem um maior nível de escolaridade, as mulheres ainda enfrentam o problema do ganharem menos do que os homens, revela estudo do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (Bndes). Compilados pelo economista do banco Antônio Marcos Ambrozio, dados da Rais (Relação Anual de Informações Sociais) mostram que as mulheres aumentaram sua participação no mercado de trabalho formal de 38% em 1996 para 40% em 2004. Os motivos são o acesso maior aos novos postos gerados e o menor número de dispensas de mulheres em períodos de crise.

De 1996 a 1999, o País perdeu, segundo o estudo, 1,1 milhão de empregos formais, dos quais 90% eram ocupados por homens e somente 10% por mulheres, de acordo com informações do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged). Na fase de recuperação do mercado de trabalho (de 2000 a 2005), foram gerados 5,5 milhões de vagas, das quais 59% masculinas e 41% femininas. Em alguns anos, o crescimento do emprego da mulher manteve o mesmo ritmo do masculino. Em 1999, por exemplo, 240 mil homens perderam o emprego, enquanto mais mulheres foram contratadas.

Apesar desse cenário favorável à ocupação feminina, os salários das mulheres se aproximaram muito pouco do rendimento dos homens. Em média, elas recebiam 89,8% da renda masculina de 1996 e 1999. Esse percentual alcançou 91% de 2000 e 2005, o que representa um avanço de apenas 0,2 ponto percentual. Os salários médios reais das pessoas que conseguiram emprego de 1996 a 2005 eram de R$ 614,00 para os homens e de R$ 556,00 para as mulheres. Na faixa de maior escolaridade (acima do ensino médio), a renda da mulher representava, em 2005, apenas 63% do salário médio do homem.

Para o economista, a discrepância é um reflexo do estreito número de mulheres em cargos de chefias no Brasil. Quando elas conseguem atingir o topo da carreira, diz o economista, recebem salário proporcionalmente menor que um homem num posto semelhante. Mais instruídas, elas já são maioria entre empregados com ao menos o ensino médio incompleto - 57% do total, segundo dados da Rais de 2004.

Entre os homens, foram abertas 318 mil vagas líquidas (descontando as demissões) de 2000 a 2005. Para as mulheres, foram 413 mil postos. Na avaliação de Ambrozio, a maior participação feminina no mercado de trabalho reflete o aumento da escolaridade das mulheres, que estudam mais anos do que os homens. Outro fator, diz, é a queda da renda média do trabalhador nos últimos anos, que obrigou mais mulheres (antes na inatividade) a buscar ocupação para completar a renda familiar.

Diferenças à parte, o certo é que todos defendem a escolha dos profissionais de acordo com o critério de competência profissional. "Na seleção dos colaboradores, o sexo é o que menos importa: verificamos se o candidato está apto para exercer com eficiência aquela atividade", explica a sócia da CG Consultoria e Assessoria Contábil, Elisabete Becker de Oliveira. Por outro lado, Elisabete afirma que o caminho que leva à igualdade entre os sexos ainda é longo, mesmo na contabilidade. "Muitos cargos de liderança, até mesmo em entidades representativas da classe contábil, os homens estão à frente", ressalta Elisabete.

Para ela, as mulheres estão bastante presentes em empresas familiares, onde naturalmente não há uma diferença entre os salários devido às relações afetivas. "Para reverter essa situação, as mulheres devem se unir mais, mostrar sua força e valor no trabalho, e não apenas nas tarefas domésticas", destaca.

Questões como a gravidez e a maternidade ainda são consideradas entraves na hora da contratação, na opinião de Elisabete. Isso porque muitos empresários temem ficar sem a profissional durante cinco meses (quatro da licença maternidade e mais um mês de férias), tendo que substituí-la. "A própria carga tributária do Brasil, uma das maiores do mundo, colabora para essa segregação, pois onera o empresário para manter o funcionário", adverte.

Encontros são estratégicos para discutir o cotidiano das profissionais

Um dos eventos voltados para as mulheres na classe contábil ocorrerá no ano que vem. O 6º Encontro Nacional da Mulher Contabilista será realizado entre os dias 7 e 9 de junho de 2007, em Florianópolis (SC). Com o lema "Compromisso e competência: caminho para o sucesso", o encontro pretende, além de reunir profissionais que se destacam na contabilidade, discutir questões que elevam a qualidade de vida dos brasileiros, isto é, temas como educação, saúde, prevenção, combate à violência e pobreza e inserção dos contabilistas no mercado de trabalho. Cerca de dois mil participantes, segundo a comissão organizadora, participarão do encontro. A primeira edição do Encontro Nacional da Mulher Contabilista ocorreu na capital carioca, em 1991, junto com a 43ª Convenção dos Contabilistas do Estado do Rio de Janeiro. A iniciativa resultou na elaboração da segunda e da terceira edições do evento, nas cidades de Salvador (1992) e Maceió (1999), respectivamente. São eventos considerados fundamentais para discutir os problemas e desafios da inserção das contadoras no mercado de trabalho.

Em maio de 2005, no teatro Tobias Barreto, em Aracaju (SE), se realizou o V Encontro Nacional da Mulher Contabilista teve como lema: "Mulher Contabilista: Participando na Transformação da Sociedade". Mais de 1.320 contabilistas, sendo 848 mulheres e 314 homens, que discutiram questões como educação, o mercado de trabalho, o futuro da profissão e à qualidade de vida.

A maioria das empresas informais está em mãos femininas
Uma análise da mulher no mercado de trabalho nas mais diversas atividades, e não só apenas na contabilidade, revela que elas são maioria entre os empreendedores informais do Brasil. De cada dez empresas informais, seis são comandadas por mulheres e apenas quatro por homens - praticamente o oposto do que ocorre nos empreendimentos formais. A conclusão está na pesquisa realizada pelo Sebrae Nacional e pelo instituto Vox Populi, que desenhou o perfil dos empreendedores informais do Brasil. A maioria dos informais é casada (64%), na casa dos 40 anos e completou até o ensino fundamental (65%).

"Acreditamos que a maioria seja de mulheres porque elas acabam procurando atividades extras pela necessidade de complementar a renda do lar", diz o gerente de gestão estratégica do Sebrae, Gustavo Morelli. Segundo ele, para cada empresa formal no País, há duas informais. Ou seja, enquanto há 5 milhões de empresas registradas, outras 10 milhões não têm registro.

"Segundo os próprios empresários, as principais razões para a informalidade são a burocracia e a alta carga tributária que incide sobre as empresas formais", diz Morelli. "Quase todos demonstram intenção de se formalizar, mas com a atual legislação é complicado para quem tem renda inferior a R$ 60 mil anuais sobreviver."

A renda média dos informais, segundo a pesquisa, é de R$ 1,042 mil mensais. Dentre os empreendedores formais, a média é de R$ 7,7 mil. "A maioria (79%) trabalha sozinha, sem funcionários", diz Morelli. Ele acredita que a maneira de trazer mais empreendedores para a formalidade seria criar uma legislação mais favorável à formalização. "Algumas coisas precisam ser revistas e simplificadas", diz.

O diretor do Instituto de Economia da Associação Comercial de São Paulo (ACSP), Marcel Solimeo, concorda. "Eles não se formalizam por causa dos custos. Precisamos tornar a formalidade mais barata que a informalidade." A maioria dos informais trabalha em casa, e 33% deles não têm nem um lugar fixo de trabalho. Os setores com mais informalidade são o comércio e os serviços, principalmente de reparos (elétricos e costuras, por exemplo).

A ACSP sugeriu, no ano passado, a criação do "empreendedor urbano pessoa física", uma espécie de registro simples para que esses pequenos empresários pudessem trabalhar na legalidade. Mas a idéia não foi aprovada no Congresso. "Poucos são os informais por vocação. A maioria só está nessa situação por questão de sobrevivência."

Fonte: Jornal do Comércio