Azar do contribuinte
NA ÚLTIMA quarta, 94 apostadores acertaram cinco das seis dezenas sorteadas na mega-sena. Cada um deverá receber R$ 24.135,05. No mesmo dia, começaram a tomar posse 13 suplentes de deputado que ficarão no cargo por um mês. Não poderão trabalhar nem apresentar projetos, porque o Congresso está em recesso. Cada um deverá receber R$ 46.000.
Além dos 13 suplentes que apenas sacarão dinheiro das burras públicas, estão tomando posse mais 11, mas que seguirão nos cargos em fevereiro. Eles substituem deputados reeleitos que se licenciaram do cargo.
Parlamentares já têm a imagem, a qual teimam em reforçar, de ganhar muito e produzir pouco. Quando se divulga que 13 deles receberão 131 salários mínimos para nada fazer, a opinião pública se revolta com razão.
O abuso é uma espécie de efeito colateral de disposições legais e constitucionais. Uma vez que a lei não pode obrigar ninguém a ser virtuoso -recusando-se a receber salário quando não se sente merecedor-, o caminho seria mudar as regras ou acabando com a suplência ou, o que parece mais simples, suspendendo pagamentos de salário nos meses em que não há sessão.
O pagamento de salários para o exercício do ócio parlamentar não é fato novo. Era apenas menos visível porque, nas últimas trocas de governo, ocorreram simultaneamente convocações extraordinárias do Congresso.
De todo modo, esse novo desgaste é mais um lembrete aos legisladores para que adotem com urgência medidas moralizadoras a fim de resgatar a sua imagem. Não é bom que o exercício da função parlamentar se confunda com tirar a sorte grande -para o azar do contribuinte.
Fonte: Folha de S.paulo