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09/02/2007

Falsificações são entrave à economia

Levantamento divulgado na semana passada coloca o Brasil como o quarto pior país do mundo na proteção à propriedade intelectual, onde as multinacionais mais sofrem com a pirataria e falsificação de produtos. A pesquisa foi elaborada pela Câmara Internacional de Comércio com as 48 maiores empresas multinacionais. Apenas China, Rússia e Índia superam o País no ranking.

Para o gerente sênior de impostos da KPMG, tributarista Altair Toledo, estudos indicam que no Brasil a riqueza gerada pela pirataria e pela informalidade é de aproximadamente 40% da riqueza formal. "Isso representa uma evasão fiscal significativa, o que, por conseqüência, acaba aumentando a carga tributária incidente sobre a economia formal."

Toledo alerta para os maiores problemas causados pela pirataria. "Deixa-se de gerar empregos formais, diminui a base tributável e, conseqüentemente, há aumento da alíquota para compensar a perda de arrecadação." Dados do Ministério da Justiça mostram que o Brasil deixa de criar dois milhões de empregos formais por ano, e R$ 30 bilhões deixam de ser arrecadados em impostos. "Na questão do direito autoral, autores e criadores deixam de receber sua parte", explica.

O tributarista sugere ações para tirar o Brasil do topo do ranking da pirataria. "É preciso uma mudança cultural, as pessoas têm o desejo de querer ganhar sempre, e por isso optam por comprar um CD pirata, por exemplo, que é mais barato. Elas esquecem que o original tem vários componentes de custos, como impostos, direitos autorais, salários e encargos de empregados de lojas, e daí seu preço mais elevado."

Uma pesquisa feita pela Federação do Comércio do Rio de Janeiro em nove capitais brasileiras mostra que o preço baixo é o maior atrativo para 93% dos consumidores de produtos falsificados. O presidente da Fecomércio, Orlando Diniz, faz um importante alerta. "Esse mercado pirata trabalha, por exemplo, com brinquedos feitos com substâncias cancerígenas. O barato nesses casos sai caro."

Toledo defende a redução da carga tributária, que encarece os produtos, e uma fiscalização mais efetiva dos órgãos públicos para combater a pirataria. "Diminuindo esse mercado informal, deverá aumentar a venda dos produtos originais. Com isso, poderá haver uma redução nas alíquotas, já que a base tributável será maior", acredita.

Porto Alegre intensifica ações de combate

A Secretaria Municipal da Produção, Indústria e Comércio vem intensificando nos últimos anos a atuação na luta contra a pirataria em Porto Alegre. Segundo o secretário Idenir Cecchim, este é um dos principais programas do prefeito José Fogaça. "Nós fazemos o combate na rua, na ponta direta onde são vendidos os produtos piratas. Priorizamos a batalha lá no nascedouro, onde desbaratamos diversos depósitos evitando que essas mercadorias cheguem às ruas", afirma.

Conforme Cecchim, a Smic já conseguiu diminuir a venda de 80% de tênis pirateados, por exemplo. "Ainda restam alguns pontos-de-venda no centro da cidade, mas estamos levantando informações para investigar e fechar todos os locais. Focamos não só os ambulantes, mas também as lojas de fachada, que vendem artigos legais e irregulares, como acontece em muitos estabelecimentos da Voluntários da Pátria."

O secretário destaca que ao longo de 2006 foram apreendidos mais de um milhão de itens, desde material esportivo como tênis e camisetas a CD, DVD e programas de computadores. "Recolhemos no final do ano passado uma verdadeira fábrica onde se editava uma infinidade de programas de pirataria eletrônica. Esse serviço era inclusive anunciado nos jornais. Eles operam numa verdadeira rede. Fabricam, vendem e oferecem telentrega", afirma. Um exemplo recente desse mercado negro é a comercialização do novo software da Microsoft, o Windows Vista, que chegou às lojas na semana passada por R$ 989,00. Nos camelôs, o programa era encontrado por até R$ 15,00.

Cecchim diz que o combate à pirataria é incessante. "Temos que sempre estar atentos, continuando esse trabalho. A pirataria faz mal para todos, inclusive para quem a pratica. Deixa-se de recolher impostos, e o principal mal é tirar os empregos de muita gente. Ao comprar produtos pirateados, não estamos adquirindo artigos feitos por empresas e indústrias que contratam mão-de-obra regularizada." Ele destaca que a prática deve ser combatida em todas as instâncias, nos poderes municipal, estadual e federal.

Para o secretário, é preciso, ainda, conscientizar a população para não adquirir esse tipo de mercadoria. Não só de forma educativa, mas com algum tipo de sanção para aquelas pessoas flagradas comprando esses produtos. Cecchim defende a discussão do preço original de vários itens. "É preciso avaliar porque o valor pago é tão alto. Provavelmente se fosse mais barato muitos não comprariam piratas. Veja o caso de um pai cujo filho quer um tênis de marca, ou a jovem que quer uma bolsa de grife. Nas lojas o preço é exorbitante, por isso recorrem à pirataria. É necessário discutir o crime e o motivo de custos tão altos cobrados pelas mercadorias", garante.

Programa do governo reduz venda de produtos ilegais

O Conselho Nacional de Combate à Pirataria, órgão vinculado ao Ministério da Justiça, elaborou um plano nacional com 99 ações econômicas, de repressão e educação que estão sendo implementadas em todo o País. Conforme o presidente do conselho, Luiz Paulo Teles Ferreira Barreto, há redução de pirataria de produtos muito afetados pelo crime como CD, computadores e cigarros.

"Há recordes de apreensões, prisões e instaurações de inquéritos. Houve fortíssima redução do ingresso desses produtos ilegais no País no último ano, com um trabalho conjunto da Receita Federal, Polícia Federal e Polícia Rodoviária Federal para combater o problema", destaca. O órgão defende a criação das Divisões de Repressão ao Contrabando e Descaminho e de Combate à Pirataria no Departamento de Polícia Federal e uma seção da mesma natureza no Departamento de Polícia Rodoviária Federal. Outra proposta é recomendar ao Poder Judiciário a criação de varas especializadas ou preferenciais em propriedade intelectual.

Números do CNCP mostram que em Foz do Iguaçu, no período de janeiro a setembro de 2006, verificou-se um volume de apreensões de mercadorias no valor de US$ 57 milhões, o que superou todo o ano anterior, que chegou a US$ 43,4 milhões. A venda de CDs piratas passou de 53% em 2003 para 40% em 2006, segundo pesquisa da Associação Brasileira de Produtores de Discos.

Barreto salienta a criação do click denúncia, em que qualquer pessoa pode denunciar fabricantes e vendedores de produtos falsificados como um grande auxílio para o sucesso das operações. "O surgimento de leis municipais que possibilitam o fechamento de lojas que comercializam produtos irregulares também possibilita um maior sucesso no combate à pirataria", diz.

No campo das ações educativas, o destaque é a campanha nacional "Pirata: to fora! Só uso original!" Veiculada em rede nacional, pretende esclarecer a população sobre os efeitos danosos da pirataria no Brasil, apresentando os seus sete pecados: gerar desemprego; sonegar impostos; prejudicar a economia nacional; enganar o consumidor e afetar sua saúde; roubar idéias e invenções; praticar a concorrência desleal; alimentar o crime organizado.

Para proteger seus produtos ou idéias, o empresário deve recorrer a alguns procedimentos simples. O diretor da Marpa Marcas e Patentes, Michel Soares, diz que, nos casos da criação de um novo produto, ele não deve ser divulgado antes de apresentado a um escritório especializado, que fará a análise da patente junto ao Instituto Nacional da Propriedade Industrial. "Isso porquê, após a divulgação, a idéia torna-se de domínio público, o que inviabiliza seu registro no INPI", esclarece.

Feita a análise, a patente é protocolada junto ao órgão federal, num processo que leva em média de cinco a oito anos. "Há uma certa morosidade em termos de julgamento no INPI para sair a patente, mas isso deve diminuir", explica. Durante esse período, o inventor ainda não tem o direito concedido da patente, mas recebe o que é chamado de expectativa de direito. Ela tem validade de 20 anos, e ao seu término a criação torna-se de domínio público. "O aconselhável é que nesse tempo o inventor ou empresário vá criando inovações para que possa continuar a explorá-la e ter direito", analisa.

Já nos casos de registro de marcas, é feita uma pesquisa, uma busca de anterioridade junto ao INPI para verificar se já existe outra com o mesmo nome no mercado. "Uma marca pode ser de um produto ou de um serviço, assim como uma loja que vende mercadorias de terceiros e suas próprias," compara, A marca não cai em domínio público, e leva de quatro a cinco anos para ser aprovada. Enquanto não é autorizada, o empresário também utiliza-se de uma expectativa de direito. Tanto no registro de patente quanto no de marca é paga uma taxa ao INPI.

A Marpa realiza em parceria com o Sebrae palestras orientando os empresários e futuros empreendedores sobre a importância do registro da marca de uma empresa e de uma patente de produto. "Muitos empresários desconhecem a diferença entre marca e patente. Procuramos repassar essas informações de forma clara para que percebam a real importância do registro junto ao órgão competente, afirma Soares.

A falta de conhecimento e de capacitação é a principal responsável pelo baixo número de micro, pequenas e médias empresas que utilizam o sistema de propriedade industrial. Entre 2000 e 2004 a proporção de micro empresas em atividade e aquelas com pedidos de proteção ao INPI era de 0,76% (106.553 contra 817), segundo dados do INPI. À medida que as empresas crescem de porte, esta relação aumenta. No mesmo período, a proporção entre as pequenas empresas era de 2,12%, crescendo para 4,35% entre as médias empresas e chegando a 9,33% nas grandes empresas.

No setor, existe uma concentração de atividades em pesquisa e desenvolvimento voltada exclusivamente à adaptação, imitação e pequenos aperfeiçoamentos de tecnologias já conhecidas. Esta lógica tende a gerar um número menor de invenções patenteáveis.

Outro fator que compromete os índices destas empresas pode ser atribuído a industriais que optam por proteger suas invenções com pessoas físicas pois os custos para inventores individuais são menores.

Jornal do Comércio - RS