Dívida pública estável deve gerar "déficit" de ativos e estimular mercado de capitais, diz BNDES
SÃO PAULO - O processo de queda de juros, que reduz os gastos do governo com a rolagem da dívida pública e deve levar a uma certa estabilidade o nível de endividamento do Brasil, pode gerar um "déficit" de ativos financeiros no mercado local. Este processo deve contribuir para o fortalecimento do mercado de capitais brasileiro e para o alongamento dos prazos de financiamentos para os projetos de investimento.
Esta conclusão faz parte de um artigo divulgado hoje pelo Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), e que é assinado pelo presidente da instituição, Luciano Coutinho.
O texto diz que até agora o crescimento das carteiras de aplicações de investidores institucionais, como seguradoras e fundos de pensão, tem sido "suprido" pelo aumento do endividamento público.
Com a provável estabilidade da dívida nos próximos anos, estes recursos terão de ser alocados em outros ativos e é aí que aparece a possibilidade de serem aproveitados pelas empresas, via mercado de capitais.
Segundo o presidente do BNDES, com a queda do pagamento de juros da dívida, mesmo que o superávit primário fique em 3,3% do Produto Interno Bruto (PIB) para o setor público consolidado, o déficit nominal do país deverá se aproximar de 2% do PIB em 2007. "Nos anos seguintes, tende a se aproximar de zero, interrompendo e mesmo revertendo a tendência de alta da dívida mobiliária interna", diz o texto.
De acordo com Coutinho, a queda dos juros reais - embora ainda em nível elevado para padrões internacionais - , também deve estimular as companhias a aceitar taxas internas de retorno menores para seus projetos, "alargando a fronteira de possibilidades de inversão privada".
Como desafio para que este cenário se realize, o presidente do BNDES defende o fortalecimento da liquidez do mercado secundário de ativos financeiros privados e cobra a atuação "pró-ativa" dos grandes bancos privados como "formadores de mercado" (market-makers) para estes papéis.
Fonte: Valor Econômico