Banco do Brasil anuncia juro menor para pequena e micro
A diretoria do Banco do Brasil deve anunciar uma nova redução na taxa de juro da sua linha de crédito para capital de giro, dedicada à micro e pequena empresas. Em junho do ano passado, ele cobrava 3,03% ao mês, e até sexta-feira cobrava 2,8%. Isso representa uma queda de 3,79 pontos percentuais na taxa anualizada, de 43,08% para 39,29%, que agora vai ceder um pouco mais.
A iniciativa é parte do esforço do Banco do Brasil para estimular a atividade econômica, que teve na atual gestão um salto extraordinário no financiamento às micro e pequena empresas, de R$ 1,82 bilhão para R$ 16,33 bilhões, ?enquanto a cavalaria não chega?. Na visão de seu presidente, Cássio Casseb, a cavalaria neste caso são as parcerias público-privadas, em tramitação no Congresso, e as grandes obras nacionais de infra-estrutura.
Nesta entrevista exclusiva, ele discute com sua franqueza habitual as forças e fraquezas do
DCI: O senhor foi presidir um grande banco estatal depois de presidir o
Cássio Casseb: Sim. Em termos de avaliação de risco de crédito, por exemplo, o choque foi muito positivo: o Banco do Brasil não deve nada a organizações globais como Citibank ou
DCI: A legislação o impede de adquirir mais do que algumas ações simbólicas do Banco do Brasil. Isso quer dizer que, durante a sua gestão, o senhor deixou de ganhar dinheiro com ela, não?
Casseb: Pois é! A ação do banco subiu 170% no ano passado, resultado do qual já se aproximou apenas nos primeiros nove meses deste ano. Subiu de um dígito para cerca de 30 reais, e no meio disso houve distribuição de dividendos aos acionistas ? ou seja, ela inflou, desinflou e voltou a subir em ritmo mais acelerado ainda. Mostra que estamos no caminho certo.
DCI: Mas o senhor não está atrasado com o cronograma de implantação do Banco Popular do Brasil?
Casseb: Nós demoramos na implantação, sim, porque estávamos adquirindo musculatura. Em julho passado, tínhamos vinte correspondentes bancários em farmácias e outros pontos de comércio no País, agora já temos 2.230. Saltamos ? no mesmo período de quatro meses ? de 1.200 clientes para 330 mil, e já concedemos R$ 8,5 milhões em crédito. Estamos adicionando treze mil clientes por dia no Banco Popular do Brasil, que já é um dos maiores bancos do País.
DCI: O senhor já tem metas claras para o Banco Popular do Brasil?
Casseb: Nós temos objetivos claros em três áreas: correspondentes, clientes e crédito. Queremos chegar a quatro mil correspondentes e um milhão de clientes até fevereiro de 2005, e depois disso colocar R$ 2 milhões em crédito até o final de 2005. Crédito vem depois porque num banco popular, voltado para a população desbancarizada, a primeira coisa que você precisa é de escala, da massa de clientes. Veja que se trata aqui de crédito para pessoas que ainda estão na economia informal, não têm carteira de trabalho assinada, não conseguem comprovar renda.
DCI: Alguns bancos regionais, como o Banrisul, já implantaram programas de empréstimos ao setor informal com sucesso.
Casseb: Mas a ele falta escala. Nós desenvolvemos nosso modelo de crédito popular depois de muita pesquisa. Existem dezoito experiências regionais brasileiras, incluindo aí o Banco do Povo do Banco do Nordeste do Brasil (BNB), que tem cerca de 250 mil clientes. Os que deram "certo" (entre aspas) no Brasil acumulam as características de crédito barato com custo operacional baixo, mas nenhum tem economia de escala. Nós fomos estudar também os programas efetivados na Bolívia, que tem o banco popular mais antigo da América Latina, e no México, Equador e outros países.
DCI: Algum deles serviu de modelo para o Banco Popular do Brasil, ou tirou-se algo daqui, algo dali?
Casseb: A nossa inspiração é o
DCI: Como é que o senhor controla custos no Banco Popular do Brasil?
Casseb: Em primeiro lugar, ele tem apenas cinqüenta funcionários. Toda a operação é feita pelo Banco do Brasil. Mas isso se dá através de leilões. Por exemplo, se nós temos um custo de R$ 2 para processamento de dados, e o Banco Popular do Brasil consegue o mesmo serviço por R$ 1,30 no mercado, nós temos de fazer o serviço por R$ 1,30 ou perdemos a encomenda. Esta é uma das razões pelas quais resolvemos fazer do Banco Popular do Brasil uma empresa separada: para tornar os seus custos transparentes.
DCI: Mas ele não dá prejuízo ao Banco do Brasil?
Casseb: Dá. Todo mundo sabe que a implantação de um programa ambicioso como este dá prejuízo nos primeiros dois anos. Mas o custo do Banco Popular do Brasil é completamente transparente, e representa um mês de lucro do Banco do Brasil por ano. Por outro lado, estamos falando de um mercado estimado em 30 milhões de desbancarizados. Se a economia crescer 6% ao ano, você pode calcular o volume de novos correntistas que estaremos incorporando anualmente ao Banco do Brasil, na medida em que eles progridem.
DCI: Seria um investimento para o próprio Banco do Brasil.
Casseb: Exatamente.
DCI: O fato de a ação do banco estar subindo tanto indica que os investidores já descontaram esse custo, e ainda acham que vale a pena?
Casseb: Provavelmente. O Banco do Brasil tem a missão de ser um banco competitivo, e estamos superando o lucro do
DCI: E o que o banco faz em termos sociais?
Casseb: A Fundação Banco do Brasil dobrou os recursos que aplica: são R$ 18,6 milhões para a educação de 52 mil crianças em 379 municípios, e R$ 28,4 milhões para geração de trabalho e renda em sinergia com o programa Fome Zero. Neste último caso, apoiamos projetos em cadeias produtivas como a do caju no Nordeste, e associações de catadores que transformam resíduos sólidos em alternativa de renda.
DCI: Como está o interesse do Banco do Brasil na micro, pequena e média empresas?
Casseb: Quando assumimos, o banco tinha alocado R$ 1,82 bilhão para o segmento, e fechamos setembro passado com R$ 16,33 bilhões. Só para as micro e pequena empresas, sem falar nas de porte médio. Nós estamos fomentando a atividade econômica assim, de baixo para cima, enquanto a cavalaria não chega.
DCI: O que é a cavalaria neste caso?
Casseb: São as parcerias público-privadas, que estão tramitando no Congresso, e as obras de infra-estrutura.
DCI: O senhor tem lido a imprensa econômica?
Casseb: Sim, mas acho que não há espaço no mercado para três jornais de economia. Temos a Gazeta Mercantil, que ainda é a maior, mas está perdendo terreno, o Valor Econômico, que está se estabelecendo na elite, e o DCI, que está crescendo. Acho que terá que haver alguma fusão aí. Os dois que se juntarem vão matar o terceiro. O Valor Econômico está ganhando credibilidade entre diretores de grandes empresas, mas ainda é pequeno.
DCI: O senhor está falando aí talvez de duas mil pessoas, presidente. E o DCI também chega nas duas mil maiores empresas do País. Nós damos atenção também à grande empresa, até porque a pequena e a média compram dela ou vendem para ela.
Casseb: É, o DCI e o Valor Econômico têm propostas diferentes. O Valor Econômico saiu da informação pura e simples para a formação, o comentário, a profundidade. Isso foi esperto. O DCI dá ênfase às micro, pequena e média empresas. Este é um mercado enorme. Um tenta fazer de cima para baixo o que o outro tenta fazer de baixo para cima. É talvez uma questão de explorar nichos. Observe o que aconteceu com a Você S/A, da Editora Abril. Ela saiu de dentro da Exame, e cresceu com uma circulação 40% maior que a da revista-mãe, porque identificou um mercado novo, o do jovem com dois ou três anos de carreira.
O Banco Popular do Brasil já é um dos maiores do País, com 2.230 correspondentes bancários
Vamos superar o Bradesco este ano como maior repassador de recursos do BNDES.
Fonte:DCI