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24/01/2008

A velha cobrança

Presidente usa a primeira reunião ministerial do ano para reclamar, novamente, da falta de entrosamento entre as pastas do governo e da infidelidade da base no Congresso. O fim da CPMF ainda não foi digerido

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva chegou à reunião ministerial disposto a cobrar serviço de sua equipe. Não esperou nem mesmo que os cinegrafistas das emissoras de televisão deixassem a sala antes de dar uma bronca nos ministros, a quem acusou de empenhar-se pouco na articulação política. Captado pelos microfones, o pito tornou-se público. Lula cobrou dos partidos aliados a fatura dos cargos obtidos por cada um no governo e deixou claro que os ministros terão de ajudar a conquistar votos no Congresso, o que significa atender os pedidos de verbas e cargos dos parlamentares.

O presidente não engoliu a derrota na votação da emenda constitucional que prorrogava a CPMF. Acha que ela demonstrou falhas em sua articulação política e quer tornar a relação mais clara. Promete entregar os cargos que os partidos querem. Em troca, quer que as bancadas ofereçam fidelidade. Não é a primeira vez que Lula faz essa cobrança. O apelo foi feito no primeiro governo e repetido depois da reeleição, na formação dos ministérios. Em todas as vezes, os partidos prometeram obediência, mas não entregaram os votos.

?Vou fazer uma discussão política?, avisou o presidente. ?Afinal de contas, com cinco anos de experiência, eu fico imaginando que muitas vezes nós ficamos cinco anos juntos, sentamos a esta mesa aqui, parece a Santa Ceia, todo mundo amigo, mas depois passamos um ano sem conversar entre nós?. Depois, cobrou: ?Penso que entre vocês existe pouca conversa política. Eu diria, há meses e meses que vocês não conversam entre si, não trocam idéias. Certamente as pessoas conhecem menos do que deveriam conhecer das coisas que o governo faz, porque o sistema de informação e comunicação entre nós talvez não seja o mais perfeito. Mas a política é o centro da atividade de um governo. Tudo que nós fazemos começa pela política e termina tendo um resultado político?.

Em outro momento, cobrou fidelidade. ?Aqui tem representantes de vários partidos políticos, nós somos um partido e estamos no governo e precisamos saber combinar essa nossa atuação na relação com todos os ministros?.

Dois problemas
A bronca de Lula teve vários objetivos. Um deles foi fortalecer o ministro das Relações Institucionais, José Múcio Monteiro. Ele queixou-se ao presidente que seu papel como articulador político está sendo prejudicado pelos outros ministros, que não atendem os pedidos para liberar emendas de parlamentares ao orçamento, ou nomear apadrinhados para cargos no governo. Lula escalou Múcio para fazer uma exposição antes que os demais ministros falassem.

Ensaiado com o presidente, Múcio disse que as informações sobre demandas de parlamentares devem ser centralizadas por sua pasta. Com isso, espera resolver dois problemas diferentes. De um lado, há os ministros que prometem atender os pedidos e depois engavetam os casos. E, de outro, os que atendem os pedidos segundo interesses políticos próprios. De acordo com um dos participantes da reunião, ?há muitos casos de parlamentares que graças ao bom relacionamento pessoal nos ministérios conseguem resolver seus problemas antes dos outros. Inclusive gente da oposição?. Lula cobrou centralização.

Todos os ministros prometeram obediência. O pronunciamento mais duro veio de Geddel Vieira Lima, da Integração Nacional. O ministro, indicado pelo PMDB, disse que ?o governo é de coalizão e os partidos têm direito a indicar gente para os cargos. Vamos dizer sim ou não e fechar logo essa página para governar. Mas depois que todo mundo estiver nomeado, os partidos vão ter de fazer sua parte. Quem não garantir votos, que saia do governo?.

Lula voltou a falar no final da reunião. Cobrou que os entendimentos com os partidos aconteçam pelos canais institucionais: presidentes e líderes. Sem a presença das câmeras, foi ainda mais explícito na cobrança de fidelidade. Lembrou que na votação da CPMF partidos de oposição, como o DEM, fecharam questão contra o imposto do cheque. Com isso, impediram que parlamentares favoráveis ao tributo votassem com o governo. Já os partidos governistas mantiveram a questão aberta. Isso permitiu dissidências em PMDB, PR e PTB. A falta desses votos causou a derrota. ?Eu sei que não dá para fechar questão o tempo todo, mas em alguns casos é necessário?, reclamou o presidente. ?A CPMF era um deles.?


?Penso que entre vocês existe pouca conversa política. Eu diria, há meses e meses que vocês não conversam entre si, não trocam idéias?

?Eu sei que não dá para fechar questão o tempo todo, mas em alguns casos é necessário. A CPMF era um deles?
Luiz Inácio Lula da Silva, presidente da República