Pressão sobre o BC
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva decidiu realizar uma reunião pós-Copom para discutir as decisões do Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central. O martelo foi batido anteontem, em conversa com um grupo de ministros e assessores. A idéia de Lula é chamar um grupo de economistas das mais diversas tendências, de dentro e de fora do governo, que, depois de avaliar o que foi definido pelo Copom, apresentará sugestões para a política econômica do governo. O Palácio do Planalto garantiu que a reunião não é uma afronta ao BC nem uma forma de colocar a instituição contra a parede. ?O presidente quer arejar o debate econômico sem pressionar o Banco Central?, garantiu um ministro.
Procurado pelo Correio, o BC não quis comentar o assunto. Mas, entre técnicos da instituição, a decisão de Lula foi vista como um ?acinte?. Para os técnicos, é plenamente aceitável que o governo promova debates econômicos, mas vincular reuniões ao pós-Copom, para discutir decisões do BC que foram tomadas depois de uma análise profunda dos indicadores do país, certamente provocará ruídos. Além disso, criará a sensação de que o governo está disposto a interferir politicamente nas decisões do Comitê.
Para os técnicos, é visível que o controle da política econômica está nas mãos de Lula, devido às divergências entre o presidente do BC, Henrique Meirelles, e o ministro da Fazenda, Guido Mantega. ?Mas reunião pós-Copom é provocação desnecessária?, afirmou um dos técnicos do BC, e acrescentou: ?Será que Meirelles participará do grupo??.
Saco de pancadas
A mesma indagação foi feita pelo economista-chefe da Concórdia Corretora, Elson Teles. ?No mínimo, Meirelles se transformará em um grande saco de pancadas?, disse. Para o economista-chefe do Banco ABC Brasil, Luís Otávio de Souza Leal, a tendência é de economistas não-alinhados ao BC, como Delfim Netto (ex-ministro da Fazenda) e Luiz Gonzaga Beluzzo, dominarem o debate, devido à proximidade com o presidente. Os dois, por sinal, têm se encontrado periodicamente com Lula para discutir temas econômicos e têm criticado a postura conservadora do BC. ?Por isso, não entendo o motivo para se criar outro grupo de debates, desta vez vinculado às decisões do Copom. Se essa decisão for adiante, uma onda de desconfiança quanto aos rumos da política monetária tomará conta do mercado?, assinalou Leal.
No entender do economista do ABC Brasil, o debate econômico é saudável, especialmente porque Lula não é um economista. ?A idéia de reuniões pós-Copom é arriscada demais?, reforçou. Elson Teles, da Concórdia, ressaltou: ?Eu não gosto disso e creio que Meirelles também não gostará. O grande sucesso da política de juros, que vem mantendo a inflação próxima do centro da meta (4,5% ao ano), mesmo com o forte crescimento da economia, está na independência e na credibilidade do BC. Porém, tudo isso pode se perder rapidamente?, avisou.
Hoje, o BC divulgará a ata da reunião do Copom realizada na semana passada, na qual a taxa básica de juros (Selic) subiu 0,5 ponto percentual, para 11,75% ao ano. Foi a primeira alta em três anos.
Incentivo à indústria A nova política industrial do governo para estimular a produção e, principalmente, as exportações, será lançada no próximo dia 12 de maio no Rio de Janeiro. A decisão foi tomada ontem pelo presidente Lula em reunião com os ministros Miguel Jorge (Desenvolvimento) e Paulo Bernardo (Planejamento), com o presidente do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), Luciano Coutinho, e com secretários estaduais de Fazenda. O governo quer, com a nova política industrial, impulsionar 24 setores da economia, inclusive com o incremento das compras públicas. Estão previstos R$ 256 milhões em financiamentos e desoneração de impostos até 2010. Alguns setores, como o naval e o de informática, devem receber incentivos maiores para aumentar a produção e as vendas internas. A política também classifica seis setores como estratégicos: saúde, energia, tecnologias da informação e comunicação, defesa, nanotecnologia e biotecnologia. Eles receberão financiamentos e políticas específicas para superar deficiências tecnológicas do país. A nova política conterá quatro macrometas até 2010: a) aumentar a taxa de investimentos para 21% do Produto Interno Bruto (PIB): b) ampliar os gastos com pesquisas de 0,51% para 0,65% do PIB; c) aumentar de 1,15% para 1,25% a participação do Brasil no comércio mundial; d) incrementar em 10% o número de micro e pequenas empresas exportadoras. |