Inflação de dois dígitos
A inflação medida pelo Índice Geral de Preços ? Disponibilidade Interna (IGP-DI) deu um salto espetacular em abril e atingiu 1,12%, o dobro da taxa esperada pela maioria do mercado, de 0,55%. Em março, o indicador tinha cravado 0,70%. Mas o que mais perturbou os analistas foi o fato de o IGP-DI acumulado em 12 meses ter ficado em dois dígitos (10,24%), fato que não ocorria desde abril de 2005. No ano, o índice que corrige vários contratos e as dívidas de estados e municípios avançou 3,22%.
O IGP-DI foi puxado, principalmente, pelos preços das matérias-primas e insumos usados pela indústria, criando uma inflação represada que pode ser repassada aos consumidores. É por isso que alguns economistas já admitem a possibilidade de o Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central aumentar a taxa básica de juros (Selic) em 0,75 ponto percentual na reunião marcada para os dias 3 e 4 de junho. Até então, o consenso era por uma elevação de 0,5 ponto.
?O problema é que as expectativas futuras de inflação estão se deteriorando muito rápido, pois, a cada índice divulgado, os números têm ficado acima das projeções do mercado. Isso estimula remarcações preventivas de preços, que vão se acumulando e jogando a inflação para patamares ainda mais perigosos?, explicou Elson Teles, economista-chefe da Concórdia Corretora. Segundo ele, em quadros como o atual, o BC precisa forçar a mão na política de juros para romper com o pessimismo e ancorar as expectativas novamente nas metas (4,5% ao ano).
Dos produtos avaliados pela Fundação Getúlio Vargas (FGV), o arroz e o minério de ferro foram, de longe, os principais responsáveis pela forte elevação do IGP?DI. Em março, o preço da saca de arroz havia caído 1,30%. Já em abril, aumentou 27,78%. O minério de ferro, que está contaminando todos os seus subprodutos, sobretudo o aço, passou de uma alta de 9,11% para 13,48%. ?Há uma pressão de custos enorme nos bens intermediários e nas matérias-primas, que subiram 1,90% no mês passado. E os riscos de esses custos serem repassados aos consumidores são enormes, uma vez que o consumo aquecido facilita esses movimentos?, destacou Zeina Latif, economista-chefe do Banco Real. O aço, por exemplo, já está encarecendo os carros e os eletrodomésticos.
Zeina lembrou que em todos os indicadores que compõem o IGP-DI, a inflação aumentou. O Índice de Preços por Atacado (IPA), que representa 60% da taxa e acompanha a evolução dos custos da indústria, computou alta de 1,30% em abril. O Índice de Preços ao Consumidor (IPC), que responde por 30% do IGP?DI, avançou 0,72%. Já o Índice Nacional da Construção Civil (INCC) subiu 0,87%. ?Não podemos esquecer que, a partir de agora, a inflação será impactada pelo aumento do óleo diesel, que vem se somar aos reajustes dos fertilizantes, dos plásticos e de todos os produtos petroquímicos, resultado dos consecutivos recordes de preço do petróleo no exterior?, acrescentou.
Mais compulsório
Não bastasse a inflação disparando, o mercado se alvoroçou ontem com os fortes rumores de aumento nos depósitos que os bancos são obrigados a recolher compulsoriamente junto ao Banco Central. Os analistas consideraram a opção um desastre, pois, se confirmada, não conseguirá conter a deterioração das expectativas inflacionárias nem reduzirá o crédito e o consumo na proporção desejada pelo governo. ?Os compulsórios já são altos demais no Brasil e têm efeito limitado?, assinalou José Luiz Rodrigues, sócio da Consultoria JL Rodrigues.